Translate

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

TRABALHOS APRESENTADOS NO III SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO E CONTEMPORANEIDADE


Trabalho apresentado no III Seminário de Educação do Campo e Contemporaneidade, realizado na Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus I, Salvador - BA, no período de 26 a 28 de setembro de 2012.
O Ensino de Geografia em uma escola pública do campo no agreste alagoano - Lindinalva Miguel da Silva, Antonio Barbosa Lúcio;
 
O Ensino de História como uma proposta libertária: considerações sobre o sistema educativo e a formação do sujeito do campo - Jôsy Mércia Ferreira de França, Douglas Dauan Joel de Oliveira Lima, Antonio Barbosa Lúcio;
Dos Anseios À Realidade: Os Problemas Da Educação Do Campo No Agreste Alagoano - Elâine Fernandes Dos Santos, José Ronaldo Das Chagas, Antonio Barbosa Lúcio;
 
Estado E Poder: A Dicotomia Entre As Leis Escritas Com A Realidade Atual Da Educação Do Campo No Sertão Alagoano - José Ronaldo Das Chagas, Amanda Monteiro Melo, Antonio Barbosa Lúcio;
 
O TRABALHO DO ‘SEM’: UM DESCASO COM O DOCENTE NA EDUCAÇÃO DO CAMPO EM ALAGOAS - Lhara Letícia de Oliveira Santos, Larissa Bruna Ferreira, Antonio Barbosa Lúcio;
 
A Educação Do (No) Campo a a História (In) Visível das classes multisseriadas: uma abordagem das práticas pedagógicas desenvolvidas em uma escola do campo em São Sebastião/Al - Edvalma da Silva Santos, Antonio Barbosa Lúcio;
 
A Educação Camponesa e a ideologia do dom. O que nos dizem professores? Os professores ou o Estado? Erinaldo Da Silva Santos, Josefa Mendes Da Silva.

XXIX CONGRESSO LATINOAMERICANO DE SOCIOLOGIA-ALAS-CHILE 2013

XXIX CONGRESSSO LATINOAMERICANDO DE SOCIOLOGIA-ALAS-CHILE 2013. Membros do NEASR, Bolsitas do PIBID/HISTÓRIA(elabororem os resumos e enviem para que eu possa observar) e demais que foram meus alunos em Sociologia interessados, vejam os GT's 05-Desenvolvimento Rural, globalização e crise e, o 25-Educação e desigualdade social. O Congresso ocorrerá de "30 de setembro a 04 de outubro. Incrições de resumos até 28 de fevereiro".
 
 
**********************************************************************************
A crise, profundamente arraigada nas nossas nações, atingiu- as com distinta força, persistência e intensidade segundo as particularidades das suas estruturas econômicas, sociais e políticas. De maneira recorrente e de certa maneira cíclica, a crise acompanha e põe em dúvida uma e outra vez a viabilidade do desenvolvimento dos países da região. No entanto, a crise da atualidade tem uma especificidade que a distingue claramente na retrospectiva histórica moderna da América Latina e que tem relação com a dinâmica das recentes transformações nas suas estruturas econômicas e sociais.
As interrogantes que servirão de eixo para nossos debates interpelam a nossas disciplinas não só nas suas funções acreditadoras, também nas emancipadoras. Esta ultima demanda deixa em evidencia que as tendências que se experimentam na sociedade se adiantaram por muito ao nosso entendimento. Também é preciso perguntar se não são requeridas inovações nas nossas perspectivas teóricas e metodológicas e por certo, discussões que sejam mais amplas e que inclusivas e de frente a novos atores e movimentos sociais.
Desde estes eixos que configuram certa perspectiva sobre a crise e emergências na América Latina e no Caribe, convidamos vocês ao dialogo, à reflexão e ao debate. Nós esperamos você em Santiago do Chile, na primavera do ano dois mil treze.


Acesso as demais informações sobre o Congresso no link abaixo:
http://congresoalaschile.cl/

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Inscrições abertas para o I Encontro de Pesquisa em Educação do Campo

As inscrições de trabalhos foram prorrogadas até 04 de dezembro.
Inscrições abertas para o I Encontro de Pesquisa em Educação do Campo O curso de Licenciatura em Educação do Campo (Procampo) da Universidade Estadual de Alagoas promove o I Encontro de Pesquisa em Educação do Campo de Alagoas. Com o tema “Educação do campo: a pesquisa fortalecendo e impulsionando novas práticas, entre os dias 13 e 14 de dezembro, no Campus I, em Arapiraca.

As inscrições de trabalhos podem ser efetuadas de 01 de novembro a 04 de dezembro. Já quem não apresentará trabalhos terá até o dia 07 de dezembro para efetuar a inscrição. Os interessados devem preencher a ficha de inscrição, disponível  no site da "UNEAL" e enviar para epec2012.procampouneal@bol.com.br ou procurar a Coordenação do Procampo, no prédio da Reitoria da Uneal, em Arapiraca.

A programação conta com apresentações culturais, místicas, mesas-redondas, seminários temáticos, comunicações orais, relatos de experiências e sessão de pôster com a abordagem de assuntos ligados à Formação de Educadores/as do campo (educação básica e superior), pesquisas em educação do campo, movimentos sociais, políticas públicas, entre outros tópicos sobre a área.

A iniciativa pretende incentivar a participação da comunidade educacional de Alagoas na discussão sobre os assuntos propostos, promover o encontro, a socialização e o diálogo sobre as produções acadêmicas e práticas pedagógicas inovadoras que vem sendo construídas em Alagoas com base nos desafios e inovações do cotidiano das populações do campo.

Orientações sobre o evento e normas para submissão de trabalhos ( ficha de inscrição) no site abaixo.
 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ANÁLISE DAS CONDIÇOES DE ENSINO E DE TRABALHO EM ESCOLAS NO CAMPO EM PORTUGUES E INGLES NO AGRESTE ALAGOANO


Antonio Barbosa Lucio[1]
 
LÚCIO, Antonio Barbosa. Análise das condições de ensino e trabalho em escolas no campo em português e inglês no agreste alagoano. UNEAL/NEASR, 2010. (Trabalho apresentado no I Encontro de Pesquisa Científica-UNEAL/CAMPUS IV de 16 a 18 de Agosto de 2010), 

RESUMO



O texto analisa as condições de ensino e de trabalho em escolas do campo em português e inglês em escolas do agreste alagoano. Demonstraremos as principais dificuldades apontadas por professores e alunos de escolas no campo da rede pública municipal de ensino de Arapiraca/AL. Temos como hipótese de trabalho que as condições de ensino e de trabalho insuficientes e inadequadas tendem a propiciar desinteresses no processo de ensino-aprendizagem e que, na educação no campo, o ensino descontextualizado, sem levar em consideração a realidade dos educandos, tende favorecer um tipo de educação que não representa condições de reflexão para a vida cotidiana dos alunos. Para tanto, utilizaremos a análise qualitativa. Nesta, utilizaremos a entrevista, através do uso de questionários semi-estruturados com 05(cinco) professores e 27(vinte e sete) alunos das respectivas disciplinas nos municípios de Arapiraca. No caso dos alunos, foram escolhidos aleatoriamente. Os questionários para professores e alunos tiveram por base: organização física da escola; formação e compreensão do papel do professor em relação à escola e o desenvolvimento dos alunos; compreensão dos alunos sobre a escola e as disciplinas analisadas. Para tanto foram utilizados questionários e gravadores de voz. Os resultados das entrevistas terão como foco de análise a busca para além do que o entrevistado relata, estabelecendo relações com o conjunto que envolve tanto o sistema de ensino, organizado pelas secretarias de educação, como as relações internas que envolvem a organização escolar e as atividades de ensino em português e inglês. Como resultados, demonstraremos que o ensino de português e inglês nas escolas no campo analisadas, possui dificuldades tanto em relação aos processos de ensino, centrados nos empecilhos que entravam as relações educacionais, como em relação à inadequabilidade a realidade do campo. Assim, a escola, os professores e os alunos, não parecem compreender o papel do ensino no campo e este, tende a ser visto como reprodução do ensino urbano.



Palavras-chave: educação no campo, ensino de português e inglês, camponês.




Introdução



O texto analisa as condições de ensino e de trabalho em escolas no campo em português e inglês em escolas de alagoas. Especificamente, analisaremos as escolas no município de Arapiraca, com 05(cinco) professores e 27(vinte e sete) alunos. Na temática abordada aqui tende a ser priorizada o questionamento de como a educação brasileira vem sendo tratada por políticas públicas governamentais, na legislação vigente e nas concepções de professores e alunos. Além disso, trata também, de um tipo de educação que, no Brasil, vem sendo historicamente relegada ao abandono: a educação do camponês brasileiro. Paralelo as essas questões norteadoras, se inseri a questão do ensino de línguas, tanto estrangeira, no caso, o inglês, como a materna. Estas, em sociedade globalizada tendem a serem instrumentos de poder frente à organização da sociedade. Ou seja, no caso do inglês, como instrumento de acesso a produção do conhecimento desenvolvido em grande parte do planeta e que, de certa forma, poderia ampliar as visões de mundo em que os alunos estão envolvidos e, no caso da língua materna, enquanto instrumento necessário para aquisição de saberes, competências e valores que são continuamente reproduzidos socialmente, mas que, devido o acesso deficitário, tende a excluir grande parte da população que não possui os requisitos lingüísticos aceitos e propagados como corretos para o conjunto da sociedade. O que significa dizer nos dois casos que, não possuir tais requisitos favorece a exclusão do acesso as condições de vida socialmente valorizadas, além de, entre outras coisas, amplia processos discriminatórios frente ao saber formal e, insistentemente, difundidos como formas corretas de produção do conhecimento. Assim, questionamos o fato desse tipo de educação ser negligenciada por organismos governamentais, continuamente sendo “esquecidos” os preceitos legais que estabelecem formas diferenciadas e especiais de conceber a educação, propostas tanto na Constituição Federal (1988), como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996) e, pelos próprios envolvidos nos processos diretos de ensino: professores e alunos. Ou seja, para além de uma “pedagogia do diálogo” que não parece surtir efeitos na educação nem na educação do campo, como Gadotti(1989), enfatizamos a necessidade de uma pedagogia para além dos interesses do colonizador centrados na submissão. Tal situação, entendida aqui, como ruptura das relações de subserviências que, visa ampliar a concepção que setores conservadores tendem a enfatizar que as dificuldades na educação no campo seria apenas ausência de recursos, despreparo dos profissionais envolvidos, questões centradas no trabalho de jovens e adolescentes etc, destacamos que se tais questões existem, estão impregnadas de valores ideológicos que, dentre outras coisas, tentam excluir parcelas da população de acesso ao conhecimento. A lógica governamental, apenas considera importante o dado estatístico, deixando de levar em consideração as diversidades e necessidades e, dessa forma, favorece a exclusão social.



Assim, a análise aqui desenvolvida[2], explicita para além do fato de que ocorre descaso com a educação no campo, mas que se tal situação ocorre, as relações conflitantes entre as forças produtivas e as relações de produção que, no caso educação parecem emergir pela negação por parte dos organismos governamentais, configurada na amenização dos conflitos, colocando problemas educacionais para os camponeses como se eles ocorressem de forma semelhante aos trabalhadores urbanos, enfatizando apenas que seriam problemas com a falta ou insuficiência de recursos, não como uma política educacional que nega ou abandona o campo. Nesse artigo, demonstraremos a quase inexistência da educação “do” campo, mas que prevalece, na região estudada, a educação “no” campo, com escolas camponesas, sem a mínima condição de funcionamento. Nesse sentido, destacaremos as contradições da vida material (MARX, 1983), envolta no sistema educacional para camponeses, que se apresentam pela distribuição desigual tanto de bens materiais como espirituais. Assim, foram realizados questionários para professores e alunos que terão por base[3]: organização física da escola; formação e compreensão do professor em relação à escola e o desenvolvimento dos alunos; compreensão dos alunos sobre a escola e as disciplinas analisadas. Para tanto foram utilizados questionários e gravadores de voz. Os resultados das entrevistas terão por base a análise qualitativa e, como foco de análise, a busca para além do que o entrevistado relata, estabelecendo relações com o conjunto que envolve tanto o sistema de ensino, organizado pelas secretarias de educação, como as relações internas que envolvem a organização escolar e as atividades de ensino em português e inglês.



1-A educação no campo: realidade visível de um povo considerado invisível pelo poder público



Ao procurarmos falar da educação do(no) campo, é preciso antes, fazer algumas considerações que enfatizam diversos problemas na educação em geral. Nesse sentido, destacaremos três questões consideradas por nós como essenciais: a)  o fato de que a educação pública, historicamente apresenta em sua organização disparidades:



essa modalidade do ensino público reproduz a dicotomia característica do sistema escolar, ou seja, essa educação é destinada às classes populares e pobres, enquanto que para as classes média e alta o Estado estimula a educação privada. Acrescentemos que a educação infantil é ainda assistencial e compensatória, o ensino médio é deficitário, e o ensino superior encontra-se privatizado em cerca de 80% das matrículas (DAL RI & VIEITEZ, 2004:44).



Ou seja, o ensino público em geral é destinado prioritariamente aqueles que não podem pagar e que são oriundos das classes populares. Portanto, a dicotomia revestida de benefício a classe popular, passa a ser retórica do poder público. Tal fato evidencia o descompromisso com a escola pública sob a alegação constitucional de que a educação é dever da família e do Estado. A “família”, quando possui recursos, pode, de fato, propiciar o tipo de educação que deseja para seus filhos. Entretanto, o Estado, estimula como apontaram os autores acima, as escolas privadas, inclusive, com a utilização de recursos públicos; b) nas escolas públicas, ainda persiste o modelo histórico de exclusão de condições de ensino e de trabalho, priorizando estudos urbanos, não na forma da Lei, como ocorreu em constituições e normatizações estabelecidas antes da constituição de 1988(CNE, 2001; SECAD, 2007), mas sob formas de exclusão que não levam em consideração as peculiaridades dos camponeses e a necessária necessidade de uma educação do campo; c) o Estado brasileiro sendo conhecedor dos problemas educacionais existentes no campo, não demonstra condições concretas centradas em políticas públicas que visem sanar tais problemas. Tanto o INEP/MEC (2007), como a SECAD/MEC (2007), apontam os problemas existentes nas escolas camponesas, mas parece continuar prevalecendo a lógica apontada por Dal Ri & Vieitez(2004) sobre a visão da reprodução dicotômica  no sistema escolar. Marx enfatiza a distribuição desigual dos instrumentos de produção, e a “subordinação dos indivíduos a relações de produção determinadas (MARX, 2003:36). Esta situação pode ser percebida, através da pesquisa do IPEA (2010) que demonstra no processo migratório brasileiro, entre 2003 a 2008, via centro-sul do país, prevalecem jovens entre 18 a 29 e, estes, quando procedentes da região nordeste, apenas 6,1% possuem até 12(doze) anos de estudos, o mesmo não ocorrendo com o sul do país, em que jovens no período e idade semelhantes possuem 23% com até 12 anos de estudos. Ou seja, com educação distribuída de forma desigual, jovens trabalhadores são forçados a atender as demandas das relações de produção que interessam as elites dominantes do país. Os jovens nordestinos, de acordo com as conclusões da pesquisa, tendem a aceitar qualquer tipo de trabalho e, inclusive, com carga horária elevada. Some-se a esses fatos, que com condições insuficientes e inadequadas de ensino, também, não possuem requisitos básicos de acesso a língua portuguesa ou, quando for o caso, de domínio de uma língua estrangeira. Mesmo possuindo níveis de escolaridades semelhantes, não possuem domínio que proporcione igualdade de condições. Tal condição tem por base o fato de que





o Brasil é um país marcado por problemas invisíveis que se escondem nos problemas visíveis. Os problemas invisíveis são dois: primeiro, o Brasil é uma colônia moderna do capital internacional; segundo, no Brasil a desigualdade impera desde 1500 com a chegada da cultura européia. Os problemas visíveis aos olhos das pessoas são: concentração de riqueza e renda; dependência externa ou desnacionalização/desestatização; dominação do capital financeiro; o Estado a serviço apenas da elite onde o que prevalece são os interesses de grupos econômicos e financeiros minoritários em relação a grande massa de brasileiros/as; monopólio dos meios de comunicação (MCS); latifúndios improdutivos e concentração da propriedade da terra; bloqueio cultural ou a desvalorização das várias culturas existentes no Brasil e a supervalorização (americanização ou europeização) do que é externo; e,  a questão ética é colocada no lixo com a inversão de valores comunitários em valores  individualistas onde o que prevalece é o consumo e o egoísmo(NASCIMENTO, 2005:8).



Mesmo documentos oficiais constatando a realidade educacional no campo, apesar de ser um avanço significativo, suas práticas não demonstram possíveis alterações no panorama educacional do camponês. Assim, parece um descompasso entre os “programas, projetos e ações” divulgados pela SECAD/MEC, dentre as quais podemos citar: Saberes da terra; Plano nacional de formação dos profissionais da Educação do Campo; Revisão do Plano Nacional de Educação - Lei nº 10.172/2001; Fórum permanente de pesquisa em Educação do Campo; Apoio à Educação do Campo; Licenciatura em Educação do Campo (SECAD/MEC, 2007) e, funcionamento das diversas unidades de ensino, não necessariamente ligadas a tais projetos. Atitudes, ressaltando sua importância, só puderam ser colocadas em prática a partir de pressões dos movimentos sociais em luta pela terra que advogam outra educação camponesa para além da atual. Entretanto, é preciso ter em mente que a lógica neoliberal voltada para a educação sob a égide do sistema capitalista, tende a perpetuar relações de dominação. Assim, será preciso perceber a relação conflituosa existente no setor educacional, para além de simples “descuido” com a educação, mas como resultado de interesses subjacentes ao próprio sistema. Assim, a necessidade de centrar a educação sob o ponto de vista da pedagogia do conflito, apontada acima por Gadotti, exige a percepção de que estando a educação envolta a relações de poder, a escola do campo, não estaria em situação diferente, portanto, o que vem sendo delineando na última década, é a explicita, porém desorganizada, luta de classe, por vezes adormecida nas análises acadêmicas, mas presente nas novas demandas das classes populares por escolas de qualidade.



Tais fatores apontados acima relacionados a educação e a educação no campo, apontam, também, para a necessidade de repensar o tipo de educação que vem sendo desenvolvida nas escolas no campo. Será preciso que a sociedade civil organizada, notadamente aquela ligada aos movimentos sociais, possam responder politicamente visando combater as forças conservadoras que insistem em manter a educação do camponês sob o predomínio do abandono estatal e, de uma visão crítica para além da atual organização. Por enquanto, sequer a condição de denúncia foi consolidada, com a clara distinção da escola que temos, com índices de abandono elevados ou mesmo da permanência na escola sem favorecer o desenvolvimento da aprendizagem e, a escola que o camponês necessita para enfrentar os interesses intrínsecos ao sistema capitalista de exclusão do acesso ao conhecimento pelas classes populares. Assim, a população camponesa passa a ser considerada invisível do ponto de vista do acesso a políticas públicas voltadas para a educação, no sentido não da sua inexistência, mas da prática verticalizada e continuamente excludente.



2.0 Escolas do(no) campo: o ensino de português e inglês no agreste alagoano



Para explicitar o papel do ensino de português e inglês em escolas do campo no agreste alagoano, faz necessário alguns esclarecimentos: os documentos utilizados da SECAD e do INEP, serão tratados como documentos oficiais do Estado brasileiro. Esse esclarecimento é importante, pois, por vezes, parecem agir como se estivessem constando um problema que seria dos outros, como se não tivessem co-responsabilidade sobre o fato. A SECAD (2007) enfatiza o caráter dicotômico da educação do campo em relação à urbana, demonstrando prevalece

a visão urbanocêntrica, na qual o campo é encarado como lugar de atraso, meio secundário e provisório, vem direcionando as políticas públicas de educação do Estado brasileiro. Pensadas para suprir as demandas das cidades e das classes dominantes, geralmente instaladas nas áreas urbanas, essas políticas têm se baseado em conceitos pedagógicos que colocam a educação do campo prioritariamente a serviço do desenvolvimento urbano-industrial. (SECAD, 2007:13).



Tal situação é importante que seja dita por um órgão governamental, mas denuncia, também, que vem persistindo políticas educacionais centradas na manutenção do status quo dos grupos dominantes. Ou seja, a avanço da privatização do ensino; a concentração de Universidades sob o controle privado; a manutenção de condições físicas deficientes nas escolas; a continuidade do descaso com o profissional da educação, tanto em níveis salariais como em relação a formação, etc.. No caso da população camponesa, apesar dos esforços da SECAD, não há indícios de que os programas, projetos e ações acima assinalados tenham modificado ou mesmo apontado mudanças para o conjunto da população camponesa. Mesmo que tais atitudes governamentais ainda necessitem de avaliação, o certo é que são pontuais e não atingem as escolas camponesas em seu conjunto. O que significa dizer que seria necessário política de Estado e não de governo que levasse em consideração o universo que envolve os camponeses em idade escolar. Assim, não há porque falar em escola do campo, como enfatiza a SECAD(2007) se, na verdade, prevalece um sistema educacional camponês desconexado da realidade brasileira e, distante de proporcionar condições consideradas semelhantes as escolas urbanas. Prevalece, portanto, a escola no campo, com problemas e dificuldades que, insistentemente, perduram a história da educação brasileira. Além disso, não parece oportuno, comparar a escola pública camponesa com a urbana, tendo em vista que, no primeiro caso, a situação tende apenas a se agravar quanto a qualidade de ensino, mas que, a urbana, não estaria em situação melhor do ponto de vista qualitativo que o próprio MEC atribui em suas diversas formas de avaliação do ensino fundamental e médio.



Com tais esclarecimentos, chamamos atenção para o fato de que no ensino de português, por exemplo, sob a lógica da exclusão, tendeu a sobrevalorizar a gramática normativa em detrimento de processos amplos de aquisição da língua/linguagem. Pereira analisando Bakhtin (1992) enfatiza essa necessidade destacando que “através da linguagem, o indivíduo age, atua sobre o outro, realiza ações com diferentes objetivos (PEREIRA, 2006:3). Assim, o camponês, necessita se instrumentalizar visando o acesso a língua padrão aceita socialmente, mas sem perder a dimensão que envolve a sua cultura e seus valores e, sem perder de vista que a linguagem é instrumento de poder, portanto, serve a diversos interesses na sociedade. De forma semelhante, o ensino de língua estrangeira, também tende a ser utilizado de forma semelhante, ora descaracterizando a língua materna, ora prevalecendo a dicotomização entre o que é ensinado e a realidade dos envolvidos. Assim, perde-se de vista o que enfatiza Paulo Freire:



me parece demasiado obvio que a educação de que precisamos, capaz de formar pessoas críticas, de raciocínio rápido, com sentido do risco, curiosas, indagadoras não pode ser a que exercita a memorização mecânica dos educandos. A que ‘treina’ em lugar de formar. Não pode ser a que deposita conteúdos na cabeça ‘vazia’ dos educandos, mas a que, pelo contrário, os desafia a pensar certo. Por isso é a que coloca ao educador e a educadora a tarefa de, ensinando conteúdos ao educando ensina-lhes pensar criticamente (FREIRE, 2000: 45).



Assim, o ensino de línguas tende a sobrevalorizar aspectos que por vezes estão contidos nos livros didáticos, na formação do professor enquanto profissional e, nos valores pessoais dos professores. Entretanto, tal situação conduz a necessidade de uma reflexão, levando em consideração o que foi dito acima sobre prevalecer interesses educacionais urbanos em detrimento das escolas do campo. Assim, a adequabilidade das metodologias



2.1 A educação no campo: caracterização geral das escolas analisadas



A pesquisa foi realizada em escolas no campo na rede publica municipal no campo da rede municipal de ensino de Arapiraca/AL, envolvendo 05(cinco) escolas, sendo 02(duas) com o ensino de português, em 2008 e, 03(três) com o ensino de Inglês, em 2010. Nestas, foram entrevistados, 25 alunos do ensino fundamental II. As escolas analisadas possuem estrutura física considerada pelos entrevistados ou como insuficientes ou inadequadas. Possuem em média 30 professores, nos três turnos, exceto a escola B que possui apenas 09(nove) professores e não funciona no período noturno. Todas as escolas possuem computadores, entretanto, ou não estão(estavam) funcionando ou não tinha quem soubesse utilizar, ou seja, professores demonstraram que não sabem utilizar computadores e que não houve a realização de cursos nesse sentido. Nas 05(cinco) escolas, existem TV, DVD e aparelho de som. Entretanto, possuem dificuldades em utilizar quer pela ausência de mídia quer pela grande quantidade de alunos. Em todas as escolas, possuem uma equipe pedagógica, geralmente atuando nos três turnos. Apenas a escola “A” e “E”, possui uma única coordenadora para os três turnos, com o agravante, na escola “E” por o coordenador atender a 16(dezesseis) turmas e 36(trinta e seis) professores, o que demonstrou a insatisfação da professora entrevistada. Não existe biblioteca, mesmo sendo frisado que existem salas de leitura, geralmente desorganizada, sem livros suficientes e adequados a realidade do aluno e das disciplinas e, sem um professor responsável para atuar junto com os alunos. Dos 05(cinco) professores entrevistados, 04(quatro) possuem curso superior realizado na UNEAL e, apenas 01(um) estaria realizando na modalidade a distância em uma universidade privada em Arapiraca. Os professores possuem 20(vinte) horas de trabalho em disseram perceber em média R$ 670,00. Salário semelhante, tanto em 2008 como em 2010. Assim, quando questionado o que necessitaria melhorar na educação, todas as entrevistadas frisaram que as condições salariais e de trabalho. A professora da escola B frisou:



Mulher, o professor precisa de tempo, trabalhar menos, salário melhor, tempo mermo pra ele, porque a gente vê professores que têm no mínimo duas escolas pra trabalhar, centralizar no mínimo em uma, com carga horária razoável, carga horária que ele tivesse tempo de se preparar. Pega hoje carga horária de quarenta horas, sessenta horas como a gente vê. Agora a maioria, tem tempo? Não tem, nem pra ele mermo (Professora de Inglês, escola B, em 02/05/2010).

A situação apontada acima parece ser a preocupação de todas as entrevistadas. Disseram, também, que as dificuldades para desenvolver o trabalho, pois, todas trabalham em outras escolas, geralmente, privadas urbanas e, apenas uma, escola da rede estadual. Dizem que realizam as atividades de organização das aulas em horário livre, pois, a carga horária é insuficiente para tal atividade. Assim, os sábados, além de ser destinado a realização de atividades domésticas, passam a ser, também, período de organização das atividades semanais de ensino. Duas das entrevistadas frisaram, também, como dificuldades, o uso de tecnologias, não apenas a sua falta, mas por não saber utilizar.



Apenas a professora entrevistada da escola “D” disse conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), mas fez questão de frisar que “a realidade é muito diferente”. Todas não sabiam da existência dos PCN’s para escolas no campo. Disseram que apesar de ouvir falar, não buscaram conhecer e, mesmo com a existência de cursos oferecidos, especialmente, em português, nunca tal assunto foi tratado. Em relação aos cursos, quando questionado se utilizavam no desenvolvimento das aulas, a professora da Escola “A” frisou:



essa questão de curso, a secretaria coloca, só que eu vejo o seguinte: eu vejo mais esses cursos hoje como uma lavação de dinheiro só. Eu vejo isso. Não é nem interesse do professor, é que os cursos realmente não são... é curso você vai, até que os professores vão, só que quando você chega lá são professores renomados, mas que não tratam da nossa realidade. Tá entendendo? Eles vivem fazendo uma realidade de lá, de outros estados. São ótimos, são realmente PHDs em tudo. Agora, esqueceram que a nossa realidade é aí no campo. Eu saio de lá e venho do mesmo jeito (Professora, de Inglês, escola “A”, em 05/05/2010)



A professora acima levanta questionamentos sobre a dificuldade de aplicar os conteúdos dos cursos de formação continuada realizados pela Secretaria de Municipal de Educação (SME). As demais, também frisaram, que os professores não querem ou não possuem tempo para participar. Entretanto, nos parece que o “não querer participar ou não ter tempo” estaria mais centrado na visão de que os conteúdos não possuem aplicabilidade prática no cotidiano do professor, quer pela ausência de tecnologias ou sua insuficiência quer pela dificuldade em desenvolver novas práticas educacionais, sem, entretanto, possuir condições estruturais na escola. As professoras entrevistadas afirmaram, no caso de língua portuguesa, o livro didático como principal fonte de consulta e, em língua inglesa, todas afirmaram a dificuldade, pois sequer tal material existe para os alunos, sendo usado mesmo apenas o quadro, giz e apagador, como únicos recursos didáticos.



Acreditam as entrevistadas que os alunos não valorizam a educação. A professora da Escola “E” destacou: “o aluno não valoriza a educação eles não vêem a educação como meio de mudar de vida. Eles não têm objetivos. Eles pensam que não vão sair dali e por isso vem para a escola só pegar a bolsa-escola. A professora da escola “D” frisou que “Alguns alunos são trabalhadores rurais e seu desempenho é fraco”. Este posicionamento foi semelhante nas demais entrevistadas: a professora da escola “A” disse que



Eles não são muito... não gostam. Tem casos de um ou outro que gosta, sabe? Mas a grande maioria é aquela pergunta: eu não vou pra Inglaterra, portanto, pra que preciso de inglês? A pergunta que deixa o professor de inglês triste, triste. Mesmo que você venha demonstrar através de texto, através de situações, que ela já tá incumbida dentro da sociedade, dentro da sua própria casa, mas ele não...(Professora de inglês escola “A” em 05/05/2010).



Já a professora da Escola “C” diz que



acho que o problema daqui, além da estrutura física, nós percebemos aqui que, tratando de escola mais moderna, está precisando de uma reforma geral até pra provocar mais bem-estar do aluno. A gente está percebendo que em escolas modernas, com estruturas físicas mais conservadas... E eles começam a estudar em escolas com as paredes sujas, com o piso daquele jeito, os banheiros também estão naquela estrutura crítica, é o que também pode causar uma desmotivação porque o bem-estar deles não está sendo conservado, e outra coisa que é crítica também, talvez os problemas maiores, é a grande quantidade de alunos numa sala de aula porque veja só, eu trabalho com alunos na faixa etária de onze a catorze anos e numa sala de aula você ter cinqüenta e oito alunos, nessa fase, na fase que gosta de conversar, você trabalhar com cinqüenta e oito numa estrutura pequena, você não consegue fazer um acompanhamento sistemático como se pede para avaliação de aluno por aluno (Professora de Português da Escola “C” em 18/07/2008).



Assim, com excessão da professora da escola “C” que além das questões acima, apontou interferência extra-classe no processo ensino-aprendizagem, as demais, destacaram que os problemas educacionais, quase sempre, estariam dentro da escola e, quando muito, na ausência dos pais ou nas condições de trabalho. Em pesquisa realizada por nós, em 2007, nos municípios de Arapiraca, Craibas e Girau do Ponciano, em 14(catorze) escolas do ensino fundamental I, tendo seus resultados publicados em 2010, constatou-se situação semelhante na visão dos professores sobre as deficiências na escola:





sem alternativas, o professor, parece culpabilizar as próprias crianças, pela deficiência no ensino, mesmo admitindo que a maioria seja de baixa renda e com pais analfabetos ou, para eles mesmos, diante o “fracasso” escolar. Voltam-se, portanto, para o imediato, o previsível, o palpável (LUCIO, 2010a:12)



Acreditamos conjuntamente com Giroux(1992) que os cursos de formação de professores, parecem não propiciar visão crítica suficiente para que o professor perceba as interconexões, entre a escola, o sistema educacional e os interesses capitalistas, não percebendo as condições subjacentes à estrutura da vida escolar. Não parecem perceber, apesar de apontarem, as condições de vida e de trabalho dos alunos e pais de alunos, 



muito freqüentemente, os programas de formação de professores perdem a visão da necessidade de educar os estudantes para se tornarem profissionais críticos, mas desenvolvem cursos que focalizam os problemas imediatos da escola e que substituem, pelo discurso do gerenciamento e da eficiência, a análise crítica das condições subjacentes à estrutura da vida escolar. Ao invés de ajudar o estudante a pensar sobre quem é, o que deve fazer na sala de aula, suas responsabilidades no questionamento dos meios e fins de uma política escolar específica, os alunos são freqüentemente treinados para compartilhar técnicas e para dominar a disciplina da sala de aula, para ensinar um assunto eficientemente e organizar o melhor possível as atividades diárias (GIROUX, 1992:14)”.

Assim, a crítica ao sistema educacional tende a se resumir a crítica da escola, dos alunos e pais de alunos. Estes são vistos por todas as entrevistadas, como sem preocupação com os filhos entregando-os a escola e abandonando a formação sob a única responsabilidade dos professores. Quando muito, criticam a Secretaria de Educação, não sem antes ressaltar que não gostaria que tal situação fosse divulgada. Prevalece uma relação de subserviência e, por vezes de ausência de compromisso, oriundo, nos parece, de uma formação ideológica deficitária.



2.2 De filhos de trabalhadores, a estudantes: a difícil trajetória de alunos em escolas no campo



Os 27(vinte e sete) alunos entrevistados são apresentados por suas professoras, como de baixa renda, empobrecidos ou de extrema pobreza. Ressaltam as entrevistadas que raros são aqueles que possuem condições econômicas mínimas e que, geralmente, sobrevivem com os recursos do Programa governamental Bolsa Família. Tais situações, apenas verificadas pela impressão que os professores possuem dos alunos, pode ser constatada nas entrevistas: de um total de 27 alunos entrevistados, com idades entre 11(onze) a 17(dezessete) anos, apenas  04(quatro) famílias não recebiam recursos do governo federal, o bolsa família. Um porque não se enquadrava nas normas do programa, por possuir pai aposentado e outro, por sua mãe trabalhar em indústria urbana. Todos alegaram não trabalhar, mesmo admitindo que realizavam atividades em casa, junto com a família. Esta situação de difícil comprovação, tendo em vista que um dos critérios do Bolsa Família é que a criança não trabalhe, além do Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA), proibir legalmente, tal atividade. As profissões dos pais, geralmente, estavam centrados no trabalho assalariado, pequenos produtores familiares (e eventuais assalariados rurais) ou, em menor percentual, empregados urbanos.



A maioria absoluta demonstrava gostar da escola, mas, por vezes evidenciava baixo grau de satisfação com a organização interna e o espaço físico. Estes, demonstraram por unanimidade acreditar na importância da aprendizagem que a escola proporciona, relacionando o ensino com a possibilidade de trabalho considerado melhor. Foram unânimes, também, em afirmar que o trabalho “melhor” estaria distante da agricultura ou do trabalho dos pais. Destacaram, também, que os próprios pais incentivavam os estudos para que não continuassem no trabalho na agricultura (assalariado ou não).Em relação a aprendizagem, todos afirmaram gosta das disciplinas analisadas, mesmo que por vezes, não aprovavam a forma como os professores lecionavam, mesmo frisando em sua maioria absoluta que gostam dos professores, não necessariamente da disciplina estudada. Essa situação prevaleceu, tanto em inglês como em português.



Ao ser questionado sobre a importância do ensino que recebem, todos acreditam que é importante, mas dizem que geralmente apenas utilizam em sala de aula. Essa situação foi mais expressiva, dentre os alunos de língua inglesa. Acreditam na importância do ensino de inglês, para um possível emprego na cidade, mas dizem que, atualmente, apenas utilizam em sala de aula. Em geral, as respostas foram genéricas, como por exemplo: “É para o futuro ” (aluna A, escola A); “pra um dia eu ser alguma pessoa melhor... Arrumar um trabalho”. Sim (aluna B, escola B); Pra mim, porque eu quero estudar e alcançar algum objetivo na vida (aluna A, escola D). Em geral, associaram a importancia da escola, a possibilidade ampliar horizontes para além do campo. Apesar da maioria absoluta acreditar que a vida no campo é melhor que a da cidade e, afirmarem que não gostariam de mudar de escola para dar continuidade aos estudos, demonstraram que sabiam que tal situação iria ocorrer tendo em vista a falta de escolas com ensino médio no campo. Das escolas analisadas, apenas uma possui tal modalidade de ensino.



Assim, foi possível verificar certa ambigüidade nas respostas dos alunos entrevistados em relação à vida no campo e na cidade. A maioria absoluta desejava continuar residindo no campo, mas acreditavam que as escolas urbanas possuíam melhores condições de ensino, ao mesmo tempo em que constatavam que os professores, eram todos da sede do município, Arapiraca, e, portanto, acreditavam que o ensino não seria diferente. Entretanto, romantizavam a tanto a vida na cidade, considerada como local apropriado para encontrar empregos melhores, como a vida no campo, supostamente livre de violência. A cidade, ainda é vista pelos entrevistados, como local violento e perigoso para viver. É importante salientar que o município de Arapiraca, possui apenas 366,03 km²(1,31% de AL) e, as comunidades analisadas ficam em média a 10Km da sede do município. Ou seja, o que distanciam os alunos entrevistados da vida urbana, parecem ser as condições econômicas (e culturais), não necessariamente, a distância entre a vida urbana e rural. O que pode demonstrar, de certa forma, que valores culturais, mesmo em uma região tão próxima, tende a se diferenciar pela forma como ocorre a produção das relações sociais.



2.2.1  O ensino de português nas escolas analisadas



A análise do ensino de português foi realizada em duas escolas (C e E), em 2008. Na escola “D”, a mesma professora ensinava português e inglês. Foram entrevistados 10(dez) alunos e 02(duas) professoras. Estas apontavam que a principal dificuldade em trabalhar com a disciplina estaria em adaptar os conteúdos a realidade dos alunos, a falta de material didático e as condições sócio-econômicas dos alunos. Mesmo com a ausência de biblioteca nas duas escolas, existindo apenas salas de leituras, geralmente composta de livros didáticos, este não foi um motivo apontado pelas entrevistadas. Além disso, a falta de funcionamento (mesmo existindo) computadores, também não foi cogitado, mesmo quando estimuladas sobre a ausência de tais tecnologias no ensino de português. A professora da Escola “E” disse em relação ao interesse do aluno com a disciplina: “o aluno não valoriza a educação eles não vêem a educação como meio de mudar de vida. Eles não têm objetivos. Eles pensam que não vão sair dali e por isso vem para a escola só pegar a bolsa-escola”.



Eles têm dificuldade, não sei como dizer, às vezes a gente diz assim de um modo grosso: uma espécie de preguiça mental (risos) um modo grosso de resumir, porque assim: você percebe um desinteresse tão grande que até passa para o professor aquilo ali, você não sabe mais como motivar para que o aluno sinta realmente prazer em escrever, não somente por escrever, ler não somente porque se pede, mas ter assim uma curiosidade para ir além do que o professor pede. Nós temos a base, nós temos a família, nós temos a sociedade, então estudar para quê? O meu tio estudou tanto, mas está desempregado, muitos alegam isso. Então você percebe que a linguagem dos livros está ultrapassada, que a turma está ultrapassada, nossa sociedade está ultrapassada. Porque de tudo eles já sabem o que eles querem é algo novo, às vezes eu me coloco no lugar deles, passar quatro horas ali sentados sem escutar professores diferentes e eles não têm na realidade aquele espaço físico para que eles possam expressar o que quiserem. Então eles precisam ter esse espaço porque estamos tratando eles como adultos, mas na realidade eles não são. São seres humanos ainda em formação física, psicológica, intelectual, é como eles se encontram (Professora da escola “D” em 18/07/2008).



A professora da escola “D” enfatizou, também, que a principal dificuldade em trabalhar com língua portuguesa é em inovar a prática pedagógica diante a ausência de material didático, acesso a internet ou mesmo da possibilidade de copiar textos, pela ausência de máquina xerocopiadora ou de recursos para tal finalidade. Além disso, o excesso de alunos nas salas e a grande quantidade de turmas tendem a contribuir para a limitação das atividades de ensino ao que propõe o livro didático. As condições financeiras dos alunos dificultam e, por vezes são impeditivas, para que seja solicitado qualquer material que possa servir para ampliar conhecimentos.  Em suas palavras:



Eu sinto essa necessidade de material didático e de espaço físico, um dos meus sonhos é trabalhar com espaço físico, veja só: você tem o intervalo de quinze minutos, mas os alunos ficam ali naqueles corredores batendo uns nos outros, quais são as opções que eles têm? Eles não têm uma quadra, eles não têm aula de educação física que é algo que faz com que eles se expressem, e essas coisas são fundamentais porque naquele momento que eles estão com uma aula vaga ou até fazem parte dos momentos da aula, se tem espaços para que eles gastem as energias, tenho certeza que o aprendizado deles melhorava. Porque ali é acúmulo de energia (Professora da escola “D” em 18/07/2008).



Em relação aos alunos, estes pareciam demonstrar que gostavam da disciplina, das professoras e das escolas. Possuíam boa aceitação com a vida no campo e, prioritariamente diziam que pretendiam residir em suas comunidades. Entretanto, ressaltavam que, acreditavam que as escolas urbanas seriam melhores e, pretendiam mudar para a sede do município para concluir os estudos, até pelo fator limitante da ausência de ensino médio nas comunidades pesquisadas. Apontaram a importância do ensino de português. Os alunos da escola “C”, afirmaram que apesar de gostar da disciplina, sentem dificuldades com a aprendizagem, especialmente devido conversas paralelas que dificultam o entendimento. Tal situação coaduna com a opinião da professora que aponta a quantidade excessiva de alunos, turmas com até 58 alunos, como fator que prejudicaria a aprendizagem.



Todos entrevistados acreditam que a aprendizagem de língua portuguesa é essencial para que possam ampliar o poder de comunicação e na conquista de emprego. A maioria admite dificuldades em aprender, mas não atribuíram à professora nem a ausência de material didático as deficiências. Acreditam que quando não aprendem é unicamente por falta de atenção nas aulas ou descompromisso com os estudos, em atividades propostas pela professora.



2.2.2 o ensino de inglês nas escolas analisadas



O ensino de inglês parece ganhar força a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 5692/71), criada sob os auspícios da Ditadura e, o incentivo, pelo governo ditatorial a predominância de uma língua estrangeira predominante. Mesmo que as escolas pudessem escolher individualmente qual(ou quais) línguas estrangeiras podiam desenvolver em suas atividades de ensino, o certo foi que prevaleceu o Inglês e o francês, como prioritário nas escolas e, continuamente, a predominância do Inglês como a segunda língua a ser desenvolvida nas escolas brasileiras. Tal fato, segundo Perin(2003) teria impulsionado maior demanda por professores nessa área. Em Alagoas, na capital, a Universidade Federal de Alagoas, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió–FAFIMA[4] e, no interior do Estado, em Arapiraca, a Fundação Educacional do Agreste alagoano-FUNEC[5], foram responsáveis pela criação do curso de Letras na modalidade português-frances e inglês. Tal prerrogativa, já demonstrava o caráter privatista da LDB/71 e, no caso do ensino de línguas, a predominância pelo inglês. O ensino de francês foi continuamente sendo abandonado nas escolas públicas, especialmente a partir da ampliação dos interesses norte-americanos. Assim, como aponta, Perin, acima citado, discorrendo sobre pesquisa de Tílio(1979), diz que este autor, analisando a demanda por ensino de inglês em escolas publicas do Paraná, no inicio da década de 1970, demonstrou que



o grau de interesse por uma língua estrangeira e por sua cultura, entre professores e alunos, e sua motivação para estudá-la, em muito dependem do valor que  ambos dão a esse estudo, no que se refere à necessidade futura. As necessidades destacadas referem-se a mercado de trabalho, especialmente o existente na sua própria comunidade mais imediata (PERIM, 2003:113-114).



As conclusões do autor de Tílio (1979 Apud PERIM, 2003), parecem coadunar, mesmo em realidades e períodos diferentes, com o que constatamos nas escolas analisadas: as professoras entrevistadas, demonstram que não percebem interesses dos alunos em relação ao ensino de inglês, pois acreditam que eles não veem como utilizar em seu cotidiano ou mesmo para o mercado de trabalho. Entretanto, os alunos entrevistados, acreditam na importância da disciplina, enfatizando a possibilidade de usar quando irão procurar emprego e, ao mesmo tempo, destacam que, apesar de ocorrer interesse, não compreendem, e por isso, sentem dificuldades. A professora da escola “A” diz que  “a gente vê a questão do próprio alunado não... que não se interessa muito, você , você às vezes planeja, faz uma coisa bacana, mas o aluno chega lá e você se decepciona              (Professora escola “A” em 05/05/2010). Já a professora da escola “D” que leciona português e inglês, diz que a principal dificuldade no ensino de língua estrangeira é o fato dos pais não motivarem tal estudo tendo em vista que os alunos não iriam utilizar tal forma de ensino.Situação semelhante é apontada pela demais professoras.Mas, os alunos, por sua vez, apontaram que, apesar de importante, não sabem como utilizar a língua inglesa em suas vidas e, que estudam pelo fato de “ter que estudar” ou necessidade futura de trabalho. Situação semelhante ocorreu com a maioria dos alunos entrevistados. Uma aluna da escola “A” disse: “é, é muito importante, porque hoje em dia é muito usada né, passa na televisão e quem quiser viajar pra outros países também né, porque todo país num fala português num é? Os Estados Unidos a Europa fala tudo inglês e eu quero viajar pra outos lugar (Aluna da Escola A em 05/05/2010). É interessante notar as deficiências que a aluna possui com a língua materna e, o equivoco que possui ao acreditar que todos os países europeu possuem com principal língua o inglês.Mas, de qualquer forma, a visão apresentada, tende a demonstrar, que o interesse pela aprendizagem de uma língua estrangeira, ainda estaria, como aponta o autor acima, no fato de que depende do valor que atribuem. Este, na maioria dos alunos entrevistados, estaria vinculado ao mercado de trabalho ou a visão idealizada do uso de inglês em possíveis viagens fora do país. Nenhum dos entrevistados, cogitou a possibilidade do uso de inglês na realidade em que vivem, não percebiam qualquer utilidade do ensino de inglês na realidade camponesa.Assim, as respostas mais freqüentes estariam vinculadas a visão de que teriam que aprender outras línguas, mesmo sem, necessariamente, apontar qual o motivo. Todos os entrevistados responderam apenas que era importante.



Apontaram a maioria dos alunos entrevistados que sentiam dificuldades em aprender inglês e, não gostavam quando as professores “incentivavam” a traduzir ou falar. Demonstraram, também, que a preocupação principal era estudar para “passar de ano”, mais do que necessariamente aprender a falar ou escrever em inglês. Dos 15(quinze) entrevistados, apenas uma disse gosta de tudo o que a professora ensina, entretanto, em outro momento, disse possuir dificuldade, achar mais importante que as demais disciplinas, mas demonstrou não saber em que poderá utilizar.



3.0 Considerações Finais



Este trabalho visou analisar as condições de ensino e de trabalho em escolas do campo nas disciplinas português e inglesa em Arapiraca/AL. Demonstramos como de forma sutil, alunos e professores, demonstram as dificuldades encontradas, tanto para aprender língua materna e estrangeira como em ensinar. Esse fato ocorre, tendo como fatores, as condições de trabalho e de ensino. Nas cinco escolas analisadas, em nenhuma possui bibliotecas, no máximo existindo salas de leituras, sem organização e com livros considerados pelos entrevistados como insuficientes e inadequados para as atividades de ensino. O espaço físico das escolas foi considerado por todos os entrevistados, como inadequado e, o apoio pedagógico, apesar de existir em todas, foi apontado como problemático em duas escolas, nas quais, existia apenas um profissional para atender a mais de trinta professores nas diversas disciplinas. Além disso, tais trabalhadores pouco ou nada podiam fazer, tendo em vista a ausência de recursos didáticos ou sua insuficiência. Assim, contextualizar o ensino ou mesmo adequar a realidade camponesa, parecia algo considerado distante. O que se faziam eram tentativas de amenizar as dificuldades ora utilizado aparelhos eletrônicos já considerados ultrapassados, a exemplo, do mimeógrafo, como único meio utilizado para elaborar textos diferentemente do livro didático. Este, considerado pelos professores de português descontextualizados não apenas em relação a realidade camponesa, mas, a própria realidade nordestina. No caso do ensino de inglês, tal recurso sequer existia.



As professoras entrevistadas, afirmaram, em sua maioria absoluta, desconhecer os PCN’s tanto para língua portuguesa como inglesa. A única professora que disse conhecer tais parâmetros avaliou como de difícil aplicabilidade na realidade que trabalha. Todas afirmaram desconhecer os PCN’s para a educação do campo e, com certo constrangimento, disseram que nunca teria sido colocado para elas a necessidade de contextualizar ou adequar o que ensinam a realidade dos alunos, nem na Universidade (quadro delas, possuem curso superior e, uma estaria concluindo em 2010) nem nos cursos de formação continuada promovidos pela SME. Admitiram, também, não se preocuparem com tal questão, priorizando o acesso a aquisição dos conhecimentos necessários para as disciplinas que trabalhavam. Todas consideraram importantes tanto a aquisição de conhecimentos da língua materna como a estrangeira, mas entendiam que grande parte dos alunos não buscava aperfeiçoar tais conhecimentos por falta de incentivo dos pais ou ausências de perspectivas em relação à escola. Em português, as professoras acreditam que há maior interesse no que se refere a aquisição de conhecimentos, mas tendem a limitar esse conhecimento diante a falta de incentivo dos pais e amigos. Em Inglês, as professoras demonstraram certo grau de frustração tanto pela falta de condições de trabalho e ensino, não proporcionados pelo setor público, como em relação ao que consideraram completa ausência de interesses dos alunos em relação à disciplina. Percebemos que as professoras não compreendiam que tal “falta de interesse” poderia possuir ligação direta com a descontextualização do ensino a realidade dos educandos, ou seja, o que seria considerado como causa, poderia, na verdade, ser consequência.



Os alunos parecem alheios a realidade das escolas que estudam. Todos concordaram que recebiam um ensino de qualidade, mesmo com as condições insuficientes e inadequadas e, geralmente culpavam a si próprios, pelas deficiências na aprendizagem. Mas, diziam utilizar parte do que aprendiam apenas no âmbito da escola, para realização das atividades propostas pelas professoras e acreditavam que tais conhecimentos eram necessários para o mercado de trabalho, mas não compreendiam que com condições desiguais de aprendizagem, o trabalho almejado como “fuga” da realidade camponesa, tende a ficar cada vez mais distante. Pareciam preocupados em saber “falar bem” tanto a língua materna como a estrangeira, mas confessando não aprenderem o suficiente. Vários apontaram que a quantidade de alunos exagerada em sala de aula, era fator principal para não aprender o suficiente, devido os ruídos internos durante as aulas. Situação também apontada pelas professoras entrevistadas. Estas, não pareciam coadunar com a opinião dos alunos de que haveria certo interesse. Percebiam que, quando muito, os alunos estudavam para a aprovação nas disciplinas analisadas, não dando a devida importância considerada por elas aos conteúdos desenvolvidos. 



Apontamos durante o desenvolvimento do texto, que o ensino tanto de português como de inglês estaria descontextualizado. Situação apontada por todos os professores que alegam as condições de trabalho e de ensino como fatores prejudiciais ao desenvolvimento da aprendizagem. Assim, tanto as professoras como alunos entrevistados, colocavam problemas internos a escola como primordiais para o agravamento das dificuldades com a aprendizagem e, exceto os alunos, os professores demonstram desmotivados, tanto com relação às condições salariais, consideradas como falta de compromisso com a educação por parte do poder público, a ausência ou acompanhamento dos pais no processo de aprendizagem, as condições físicas da escola e, a falta de material didático, os principais fatores para a deficiência no ensino.



Demonstra que o objetivo inicial foi comprovado, diante a realidade das escolas analisadas que funcionam sem condições mínimas para o ensino-aprendizagem. Destacamos, ainda, no decorrer do texto, que a hipótese de trabalho segundo a qual “as condições de ensino e de trabalho insuficientes e inadequadas tendem a propiciar desinteresses no processo de ensino-aprendizagem e que, na educação no campo, o ensino descontextualizado, sem levar em consideração a realidade dos educandos, tende favorecer um tipo de educação que não representa condições de reflexão para a vida cotidiana dos alunos, ”que tanto o ensino de português como de inglês estavam distantes da necessidade de aprendizagem dos alunos, tendo em vista que nem professores nem alunos, compreendiam o que seria contextualizar o ensino ou realizar educação do e não no campo. Prevalece, portanto, a visão urbanocêntrica de educação, centrada na visão dos livros didáticos (e em menor proporção) do professor sobre o que deve ser ensinado nas escolas camponesas.

























































Referencia Bibliográfica



BRASIL. Lei 9396 de 20/12/1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília: Gráfica de Senado, 1996.

BRASIL.Ministério da Educação/Conselho Nacional da Educação/Câmara de Educação Básica. (MEC/CNE).Diretrizes operacionais para a educação básica nas escolas do campo./ Resolução nº 1, de 3 de abril de 2002;

DAL RI, Neusa Maria & VIEITEZ, Candido Giraldez. A educação do movimento dos sem-terra. Revista Educação brasileira, n.26, Maio /Jun /Jul /Ago, 2004;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros. São Paulo, UNESP, 2000;

GADOTTI, Moacir. Educação e poder: introdução a pedagogia do conflito. 9 ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989(Coleção educação contemporânea);

GIROUX, Henry. Escola crítica e política cultural. Trad. Dagmar M.L. Zibas. São Paulo: Cortez; Editores associados, 1992(Coleção Polêmicas do nosso tempo, v.20);

INSTITUTO Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). Panorama da Educação do Campo. Brasília-DF, 2007;

LEI  de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB). Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1997;

LÚCIO, Antonio Barbosa. A esquecida educação camponesa. Webartigos, 2010a. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/31681/1/A-ESQUECIDA-EDUCACAO-ESCOLAR CAMPONESA/pagina1.html. Acesso: 05/08/2010.

LÚCIO, Antonio Barbosa. Fronteiras da igualdade no ensino fundamental: uma proposta de análise de indicadores da qualidade do trabalho docente.UNEAL:PGP-FADURPE,2010b;

MARX, K., Contribuição à Crítica da Economia Política, em FERNANDES, F. (org.), K. MARX & F. ENGELS: História, São Paulo, Ática, 1983, pp. 233-234. 

SECAD/MEC. Educação do Campo: diferenças mudando paradigmas. Brasília/DF, 2007;

NASCIMENTO, Claudemiro Godoy do. Caminhos e descaminhos da educação do campo: um projeto de Intervenção político-pedagógico no contexto rural. Práxis: Revista eletrônica de história e educação:FJA. Ano II, n.2, 2005. ISSN 1807-3174. Acesso em www.fja.edu.br/praxis/praxis_02/documentos/artigo_3.pdf. acessado em 15/07/2010;

PERIN, Jussara Olivo Rosa.Ensino/aprendizagem de inglês em escolas públicas: um estudo etnográfico. Maringá:Acta Scientiarum: human and social sciences.  v. 25, n. 1, p. 113-118, 2003 Acesso em periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/.../1382. Acessado em 15/07/2010.

SECRETARIA de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC). Educação do campo: diferenças mudando paradigmas. Brasília-DF, mar.2007.

TÍLIO, M.I.C.  Teachers’ and pupils’ attitudes towards the teaching of English in Brazil:  a case study in  Paraná. 1979. Tese (Doutorado em Lingüística Aplicada) - University of London, London, 1979. In: PERIN, Jussara Olivo Rosa. Ensino/aprendizagem de inglês em escolas públicas: um estudo etnográfico. Maringá:Acta Scientiarum: human and social sciences.  v. 25, n. 1, p. 113-118, 2003 Acesso em periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/.../1382. Acessado em 15/07/2010.





[1] Professor Msc. em Sociologia na Universidade Estadual de Alagoas-UNEAL-Campus I-2010. Texto apresentado no
[2] No texto, todas as falas dos entrevistados foram preservadas como tal a pronuncia dos participantes. Além disso, não foram utilizadas qualquer forma de identificação nem dos participantes nem das escolas envolvidas.
[3] Os questionários utilizados para este trabalho foram organizados por Antonio Barbosa Lúcio a partir de outras pesquisas, de formulação adequando a realidade local e, foram aplicados por alunos 10(dez) do 4º período de Letras(2008 e2010). Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla coordenada pelo autor deste trabalho, desde 2007, intituladacaracterização socioeconômica das escolas das redes municipais de ensino do agreste alagoano” com alunos dos cursos de letras e matemática da UNEAL-Campus I. Os resultados das entrevistas, questionários, fotografias e demais documentos estão arquivados no Núcleo de Estudos Agrários e Movimento Sindical Rural em Alagoas-UNEAL-Campus I.
[4] Atual Faculdade de Educação e Comunicação– FECOM, entidade privada administrada pelo Centro Universitário-CESMAC
[5] Atual Universidade Estadual de Alagoas-UNEAL, entidade pública do Governo do Estado de Alagoas.

sábado, 31 de dezembro de 2011

O DESCASO DA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO: AS DIFICULDADES ENFRENTADAS

POR PROFESSORES E ALUNOS DA ESCOLA NO CAMPO NO INTERIOR DE

ALAGOAS (UM ESTUDO DE CASO)

Elâine Fernandes dos Santos - UNEAL

elaine.vip@hotmail.com

Josefa Mendes da Silva- UVA

josefa.uneal@hotmail.com

Antônio Barbosa Lúcio - UNEAL

ablucio1@yahoo.com.br

Resumo

Este trabalho tem por objetivo mostrar os resultados de uma pesquisa bibliográfica e de campo que

revela a realidade da educação no campo, particularmente, da escola Deraldo Campos localizada

na zona rural de São Sebastião/AL. Dessa forma, busca-se evidenciar a realidade das escolas do

campo, no interior de Alagoas, e oferecer informações sobre algumas particularidades acerca do

processo ensino-aprendizagem, funcionamento e condições socioeconômicas de seus alunos.

Palavras chaves
: educação, educação no/do campo, sala multisseriada.

1.0 Introdução

Este trabalho tem por objetivo mostrar os resultados de uma pesquisa bibliográfica e de campo que

revela a realidade da educação no campo, particularmente, da escola Deraldo Campos localizada na

zona rural de São Sebastião/AL. Dessa forma, busca-se evidenciar a realidade das escolas do

campo, no interior de Alagoas, e oferecer informações sobre algumas particularidades acerca do

processo ensino-aprendizagem, funcionamento e condições socioeconômicas de seus alunos. A

educação do campo, no Brasil, sempre ficou em segundo plano. É fácil chegar a essa conclusão ao

se analisar as condições das escolas localizadas nesta área: a maioria delas encontra-se em locais

isolados; a estrutura física, geralmente, encontra-se em péssimas condições; a maioria dos

professores tem que se deslocar da cidade para o campo; salas multisseriadas; falta de merenda

escolar, isso sem falar que essas escolas estão praticamente abandonadas. Dentre outros fatores.

A necessidade de se pensar em uma educação voltada para o campo é muito importante se

pensarmos na realidade da sua população, e também no fato de que a maior parcela dos estudantes

da zona rural sequer chegará a concluir o ensino médio. O que implica dizer que os mesmos se

dedicarão ao trabalho rural como têm feitos os seus pais, avós, não por opção, mas por ausência de

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
2

condições mínimas de sobrevida. Geralmente, acredita-se que para viver na “roça” não é preciso ter

muitos conhecimentos. Essa ideia mostra que para os trabalhadores do campo, ter uma formação

escolar não é tão importante quanto para os que vivem na cidade. É fácil observar o descaso

oferecido aos estudantes da zona rural. Suas escolas são geralmente multisseriadas, o que deixa

muito a desejar quanto à eficácia do ensino lá ministrado.

Pensar em uma educação voltada para os trabalhadores da zona rural requer a compreensão de que

sua população, como a urbana, é demandante de direitos. Assim, tem-se a necessidade de uma

educação que corresponda aos interesses dos trabalhadores do campo. Então, são necessárias

políticas públicas de educação adequadas às necessidades diárias dessa gente valorizando sua rica e

importante contribuição para a sociedade, tendo em vista que o campo não é um lugar de atraso,

como muitos podem pensar, mas de produção: cultural, social, política e econômica.

Neste artigo utilizamos depoimentos colhidos com 05(cinco) alunos e as 02(duas) professoras que

trabalham no 4° e o 5° ano do ensino fundamental, da Escola Deraldo Campos, que se dispuseram a

responder os questionários da pesquisa. Demonstraremos que é precária a situação da escola em

questão denunciando o decorrente descaso do qual essa e tantas outras escolas da zona rural são

vítimas: não há salas suficientes para comportar cada uma das séries oferecidas pelo

estabelecimento; a sala de aula é multisseriada; merenda insuficiente e de baixa qualidade; falta de

material didático adequado e atualizado; capacitação dos professores. Dentre outros fatores que

tornam quase inviável a oferta de um ensino de qualidade.

1.0 O problema da Educação do Campo

Quando falamos em educação do/no campo não estamos propondo a criação de um tipo próprio de

escola para o campo, mas sim de um ensino que deveria ser mais flexível e culturalmente adaptado,

tanto no campo como na cidade. Percebe-se que a educação atual no campo está voltada para a

alfabetização dos jovens e não centrada no fator educar, em seu sentido amplo. O modelo atual da

educação no campo não prepara as crianças para a vida no mundo urbano nem para o mundo no

campo. É uma educação que prepara esses novos cidadãos para serem submissos à lógica do

capitalismo. Ou, para mais tarde serem apenas explorados. Esse mesmo modelo de educação parece

colaborar com o processo de expulsão dos jovens do campo fortalecendo o ciclo vicioso que estes

têm realizado: ou sair do campo para estudar ou estudar para sair do campo (BENJAMIN e

CALDART, 2000; GENTILI e McCOWAN, 2003
Apud MION e JESUS, 2005; ESTEVAM, 2010).

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
3

A maioria dos estudantes oriundos da zona rural não consegue concluir sequer o ensino médio. Este

fato pode ser demonstrado a partir de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2008) que demonstram que em Alagoas apenas a cidade de

Girau do Ponciano possui 01 (uma) escola de ensino médio no campo. O censo escolar de 2008

demonstra que o ensino fundamental na rede pública municipal do campo em São Sebastião teve

2.673 alunos matriculados nos anos inicias, mas destes apenas 1.306 chegaram a finalizar o ensino

fundamental na cidade. Diante destes dados, percebe-se que sob a lógica do governo de Alagoas, o

ensino fundamental ainda pode ser realizado no campo, mas o ensino médio deve estar sempre na

cidade. Assim, a falta de escolas no ensino médio é fator agravante. Assim, quanto mais elevado o

nível de ensino, diminui o número das escolas que oferecem este nível e, os alunos precisam ir para

a cidade. Entretanto, as dificuldades são muitas: dentre elas, a questão do transporte que muitas

vezes não chega a alguns povoados distantes, por vários motivos, como por exemplo, a questão das

estradas que ficam em péssimas condições no período das chuvas. Mas, existem outros fatores que

dificultam e/ou comprometem a aprendizagem nas escolas do(no) campo, pois:

o nível de escolaridade dos professores revela, mais uma vez, a condição de carência da zona

rural. No ensino fundamental de 1ª a 4ª série, apenas 21,6% dos professores das escolas rurais

têm formação superior, enquanto nas escolas urbanas esse contingente representa 56,4% dos

docentes. O que é mais preocupante, no entanto, é a existência de 6.913 funções docentes sendo

exercidas por professores que têm apenas o ensino fundamental e que, portanto, não dispõem da

habilitação mínima para o desempenho de suas atividades. A maioria desses professores leigos

atua nas Regiões Nordeste e Norte (MEC/INEP, 2007: 33).

Logo, percebe-se que o fato das escolas brasileiras, principalmente as localizadas no campo,

apresentarem precárias condições para o seu funcionamento como, por exemplo, classes

superlotadas, classes multisseriadas, desvalorização social dos professores, insuficiência de

materiais didáticos, e, ainda, boa parte dos professores não tem domínio de conteúdos e

metodologias, estes fatores ao lado das péssimas condições em que vive o aluno, são responsáveis

pelo
déficit dos resultados em relação à educação urbana. Essa realidade aponta para o fato de que,

há muito, a educação do campo vem sofrendo as consequências da falta de comprometimento e

responsabilidade dos órgãos responsáveis pela gerência da Educação no Estado Brasileiro. Este, por

sua vez, garante que medidas e projetos já estão sendo postos em prática, como por exemplo, as

Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, documento elaborado pelo

Conselho Nacional da Educação e aprovado em 2001, onde são estabelecidas as especificidades e

leis que garantem às escolas do campo um ensino de qualidade e condizente com a realidade de sua

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
4

população. Mas, na prática, diante da realidade das escolas no campo esses projetos e leis - dentre

outros - parecem não surtir efeitos ou mesmo que possam ser sentidos na realidade pesquisada.

1.1 A Educação no Campo em Alagoas

Em Alagoas, a situação da educação no campo parece ser ainda mais grave considerando que o

Estado é, essencialmente, rural. O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(IDEB) para 2009 demonstrou que o Estado está entre os piores índices do país, com nota igual a

3,7 abaixo da média nacional que é 4,2. E, a situação pode ser ainda pior uma vez que as escolas do

campo, geralmente ficam fora das pesquisas realizadas. A falta de um modelo de educação voltado

para as especificidades do campo faz com que muitos jovens abandonem os estudos por não

reconhecerem nos ensinamentos recebidos características condizentes com a realidade em que

vivem. E, muitos outros também acabam percebendo que a única forma de continuar os estudos é

adaptando-se a ideia que muitas vezes o modelo de educação atual deixa transparecer: de que a

cidade é superior ao meio rural. Pois,

apesar de o Brasil ser um país de origem eminentemente agrária, a educação
rural aqui nunca

foi alvo de interesse dos governantes, ficando sempre
relegada a segundo ou terceiro plano,

"apêndice" da educação urbana. Foi e é uma educação que se limita à transmissão de

conhecimentos já elaborados e levados aos alunos da zona rural com a mesma metodologia

usada nas escolas da cidade. Não se faz relação com a vida dos alunos e de sua família, com o

trabalho agrícola nem com o meio ambiente em que a escola está inserida. [...] e ignoram-se os

conhecimentos que as crianças já trazem consigo para a escola (BAPTISTA, 2003:20-21)

(Grifos do autor).

Dessa forma, a identidade camponesa desses alunos vai desaparecendo gradualmente. Essa

identidade é caracterizada pelas lutas diárias que essa população enfrenta em sua luta pela igualdade

de direitos. Nessa perspectiva, geralmente não sendo um trabalhador rural, o educador que vive,

sente e convive com eles, torna-se companheiro nas lutas diárias de seus alunos. E também acaba se

identificando com os seus viveres, saberes e prazeres, tornando-o co-participante do ato de educar

no e para o campo. Mas para tanto, necessitaria de formação adequada que lhe propiciasse

condições efetivas de desenvolver atividades que possam relacionar os conteúdos trabalhados com o

mundo em que vivem os alunos.

1.2 A situação da educação do campo no Brasil.

A Educação do camponês no Brasil sempre ficou em segundo plano, talvez porque desde o

feudalismo a elite dominante sempre tenha visto os camponeses como seus submissos, portanto não

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
5

dignos de ter algum conhecimento científico, geralmente devido a concepção ideológica que

fundamenta o sistema capitalista, que lucra mais quando os indivíduos desconhecem os seus direitos

e não reivindicam melhores condições de trabalho e vida.

Quando circulamos pelo campo percebemos como os prédios das escolas dessa área são, em sua

maioria, de pequeno porte com uma ou duas salas de aula e quase todas oferecem ensino

fundamental de 1º ao 5º ano. Muitas escolas possuem turmas multisseriadas, o que, segundo o INEP

(2005) correspondia a 56%das escolas da região nordeste com um único professor responsável pela

aplicação do conteúdo didático para as quatro séries. Além da sobrecarga de trabalho desses

profissionais e das más condições de trabalho, o salário para os professores da zona rural tende a ser

menor comparado ao salário dos professores da rede urbana, pois segundo dados do INEP (2007) os

professores do campo recebem 60% a menos do que os professores urbanos. Isto acontece, talvez,

porque esses professores não possuam qualificação profissional considerada adequada ou porque os

prefeitos não valorizam a educação e, o Estado brasileiro se omite diante os problemas com

educação. A união de todos esses fatores contribui para o mau desempenho dos alunos e a

desistência dos mesmos:

[...] o problema das turmas multisseriadas está na ausência de uma capacitação específica dos

professores envolvidos, na falta de material pedagógico adequado e, principalmente, a ausência

de infra-estrutura básica – material e de recursos humanos – que favoreça a atividade docente e

garanta a efetividade do processo de ensino-aprendizagem. (...) (INEP, 2006:19
Apud SECAD,

2007: 22).

Ora, o INEP, ao invés de admitir que o problema das turmas multisseriadas estaria no fato delas

existirem, passam a culpabilizar outros fatores, é verdades, agravantes, mas sem conotação direta

com a questão fundamental do por quê existir escolas com tal modalidade de ensino. A questão

principal estaria no descaso público em garantir escolas de qualidade tanto no setor urbano como

rural atendendo a estes últimos às peculiaridades do campo.

Outro problema que afeta diretamente estes estabelecimentos é a falta de recursos financeiros que

possam ser aplicados corretamente. A ausência de uma administração competente e que saiba usar

com responsabilidade os recursos direcionados para essa área também afeta o desenvolvimento

desse setor. O descaso com a educação do campo envolve ainda muitos outros problemas que, para

a população camponesa, são desconhecidos por falta de informação, bem como, a falta de

assistência e supervisão pedagógica e também de um calendário escolar que se adeque às

necessidades dos sujeitos do meio rural, como estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação:

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
6

Art. 28º
. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino

promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada

região, especialmente: I
- conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II
- organização escolar própria, incluindo

adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III
-

adequação à natureza do trabalho na zona rural (MEC/LDB 1996: art.28).

Toda essa discussão acerca dos problemas sobre a educação no campo revela a preocupação que

existe em valorizar a população que vive no campo, pois,

(...) quando discutimos a educação do campo estamos tratando da educação que se volta ao

conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam os camponeses, incluindo os

quilombolas, sejam as nações indígenas, sejam os diversos tipos de assalariados vinculados à

vida e ao trabalho no meio rural. (CERIOLI & CALDART (2004: 25)
Apud ANTONIO e

LUCINI, 2007: s/p).

Ou seja, a educação do campo deve ser pensada em função das necessidades e peculiaridades que a

vida no campo exige. Independente de cor, raça, sexo, idade ou religião. Pois, a população

camponesa, assim como a urbana, também é demandante de direitos e deve ter acesso a uma

educação que
seja e esteja vinculada a realidade em que esta gente está inserida.

1.3 Análise da Escola de Ensino Fundamental Deraldo Campos (São Sebastião/AL)

Impulsionadas pela discussão sobre a Educação do Campo, visitamos uma escola da zona rural com

o intuito de verificar qual a situação em que se encontrava sua estrutura física e investigar junto aos

alunos e professores quais as principais dificuldades enfrentadas. A realidade com que nos

deparamos foi a já citada anteriormente: estrutura física deteriorada, poucas salas de aula,

professores tendo que se deslocar da cidade para o campo, turmas multisseriadas, dentre outras. A

escola Deraldo Campos (foto 01, abaixo) está localizada no povoado Taboquinha, município

pertencente à cidade de São Sebastião/AL, possui três salas, das quais uma é utilizada como sala de

leitura. Sua estrutura física está deteriorada, as paredes estão sujas, o piso gasto, as cadeiras sujas e

quebradas. Na sala de leitura (foto 02, abaixo) verificamos que os poucos livros existentes são

velhos, desatualizados e mal organizados. Além disso, não há condições razoáveis de se trabalhar

com uma quantidade elevada de alunos na sala de leitura, que também funciona como sala de aula,

pois não há cadeiras suficientes para acomodar um número maior de pessoas, o que dificulta o

trabalho das professoras. De acordo com as professoras são os alunos do 5° ano que mais utilizam

os livros disponíveis, embora todos tenham acesso a eles. A falta de biblioteca e livros atualizados

disponíveis que possam auxiliar e incentivar o gosto pela leitura e pesquisa é um dos problemas

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
7

corriqueiros existentes na maioria das escolas localizadas no campo, pois dados do INEP/MEC

(2007), demonstram que 94,8% das escolas localizadas nesta área não possuem biblioteca.

Foto N° 01: Escola Deraldo Campos, Sítio Taboquinha, São Sebastião – Alagoas.

Fonte: Santos; Silva; Lúcio, 29/09/2009.

Foto N° 02: Interior da Sala de Leitura da Escola Deraldo Campos - Sitio Taboquinha - São

Sebastião/AL

Fonte: Santos; Silva; Lúcio, 29/09/2009.

Dos cincos professores da escola, foram entrevistadas as professoras: Carmem Lúcia dos Santos, 33

anos, e Valdinete Batista dos Santos, 37 anos, ambas com formação superior em Pedagogia pela

Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). As entrevistadas afirmaram que a escola não possui

equipe técnica de apoio e nem conselho escolar, mas a secretaria de educação oferece esse apoio à

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
8

escola. São feitas reuniões bimestrais com os pais dos alunos que comparecem em sua totalidade

quando as reuniões acontecem fora do período de plantio. Segundo os relatos das professoras, não

há eleições para equipe administrativa que, na escola, se resume a direção geral, então, esse cargo é

ocupado por indicação política.

A professora Carmem Lúcia dos Santos, que também é a responsável pela direção da escola, explica

que quando assumiu o cargo (março de 2009) a situação era bem pior, pois de acordo com os seus

relatos, não havia sala de leitura, a participação dos pais nas atividades da escola era menor, a

comunidade participava menos da vida da escola. Quando questionadas sobre o uso de recursos

tecnológicos na escola, as entrevistadas relataram que o único recurso desse tipo disponível é um

pequeno microssistem, que, vez ou outra, é utilizado. Acreditam que se a escola possuísse recursos

para além dos que existem, as aulas seriam mais proveitosas e interessantes para os alunos, como

relata a professora Valdinete Batista dos Santos: “o uso da tecnologia na sala de aula é com certeza

importante, porque incrementa a aula do professor, o conteúdo chamaria mais a atenção e não seria

a mesma coisa todos os dias (Valdinete Batista dos Santos, professora da zona rural/São Sebastião-

AL em 29/09/2009)”.

A falta de recursos tecnológicos é só um dos muitos problemas que os professores, dessa e de outras

tantas escolas da zona rural têm que enfrentar. Esses recursos tecnológicos seriam apenas materiais

de apoio para tornar as aulas mais práticas. Mas, o que se pode perceber é que não falta apenas este

tipo de material, os únicos recursos que a escola possui são a lousa e o giz, além de alguns livros

usados. Há também o problema da alimentação na escola. Segundo os entrevistados, a alimentação

distribuída pelo poder público é o suficiente apenas para, em média, 15 dias e até que chegue uma

nova remessa eles têm que esperar certo tempo, além disso, não seria considerada por eles de boa

qualidade.

Uma das professoras entrevistadas também falou sobre os cursos de capacitação oferecidos pela

rede pública e deu sua opinião sobre os mesmos:

os cursos de capacitação precisam ser melhorados, principalmente os instrutores que não têm

total conhecimento do conteúdo. Precisa-se de pessoas que tenham domínio do assunto. Nós

utilizamos os conteúdos dos cursos para aperfeiçoar nossas aulas, mas nem sempre isso é

possível, trabalhamos de acordo com as nossas capacidades, uma vez que, nas capacitações

existe todo um material, uma realidade diferente da sala de aula. Na sala de aula o professor tem

que transformar o que aprendeu em algo que ele possa utilizar (Carmem Lúcia dos Santos, 33,

professora da zona rural/São Sebastião-AL em 29/09/2009).

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
9

Com base nos depoimentos das professoras, pode-se perceber a preocupação delas em fazer o

possível para manter seus alunos na escola. Mas, as dificuldades são, de fato, imensas. Pelos os

dados coletados, podemos verificar que a situação sócio-econômica das famílias dos alunos é

precária. Muitas vezes a merenda parece ser a única refeição que eles têm no dia.

Visando aperfeiçoar suas aulas, as professoras entrevistadas afirmaram que se vêm na necessidade

de buscar fora da escola recursos didáticos que prendam a atenção dos alunos, pois o poder público

não fornece. A necessidade de estimular os alunos a participar ativamente da aula, é a alegação

utilizada pelas professoras entrevistas que tiram o dinheiro do aproximadamente de R$ 840,00

mensais que recebem como docentes. É importante salientar o fato de que as professoras lecionam

em salas multisseriadas onde têm que trabalhar com conteúdos distintos, com alunos que cursam o

4° e o 5° ano do ensino fundamental. As turmas possuem entre 14 e 15 alunos com idades que

variam entre 08 e 11 anos. Essa situação tende a ser desfavorável para o aprendizado, devido à

dificuldade em trabalhar conteúdos diferenciados sem condições básicas de ensino, além do fato,

como dito anteriormente, que as professoras não recebem apoio pedagógico frequente para

desenvolverem as disciplinas que lecionam.

Foram entrevistados cinco alunos com idades entre 08 e 11 anos, todos moram com a família e nas

proximidades da escola. Em todos, percebe-se o interesse pelos estudos, embora 40% tenha se

mostrado mais tímidos quando interrogados. Para as crianças entrevistadas a escola é o lugar para

onde elas vão para aprender a ler e escrever. Quanto às questões relacionadas ao conteúdo estudado

em sala de aula 40% dos entrevistados relatou não ter dificuldades, já os outros 60% confessaram

que encontram dificuldades nos momentos de leitura por ainda não saberem ler muito bem. Então

têm que repetir a leitura várias vezes o que torna a atividade chata, relataram eles. Note-se que

estamos relatando situações com alunos do 4º e 5º ano que, demonstram não conhecer o suficiente

para leitura de um texto.

Na visão dos alunos entrevistados a escola tem grande importância em suas vidas, pois quando

perguntados se pretendiam dar continuidade aos estudos todos responderam que sim. Mesmo sendo

bem jovens, essas crianças demonstraram pensar no futuro, como sugestões de profissões futuras

foram citadas por elas: Médico, Policial e Professor. Todas as crianças entrevistadas reclamaram da

estrutura da escola e da falta de alimentação. Em relação às aulas 20% deles acha que a professora

fala demais e devia brincar mais; 20% consideram que as aulas são boas; outros 20% relataram que

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
10

os exercícios aplicados são muito fáceis e 40% que seria bom trabalhar mais com textos enfatizando

a leitura.

De acordo com os depoimentos dos alunos há um bom relacionamento entre eles e suas professores,

embora vez ou outra surja alguns desentendimentos. Desses estudantes 60% confessaram trabalhar

com seus pais no cultivo do fumo e em outras atividades agrícolas. Este fato foi relatado também

pelas professoras entrevistadas. Das crianças entrevistadas nenhuma aceitou de bom grado a ideia

de ter que se deslocar para a cidade para continuar estudando. Para elas viver e estudar no campo

significa ser livre para correr, brincar com seus amigos. Além disso, suas famílias podem plantar

algumas hortaliças e verduras; não precisam comprar tudo. Para eles, o campo representa um espaço

de liberdade enquanto que a cidade é vista como um espaço de restrições: “Minha vida aqui é boa

porque eu tenho a liberdade para andar e espaço para brincar. Acho que viver na cidade é ruim,

porque eu vou ficar trancado e sozinho, aqui eu tenho meus amigos e primos para brincar (José

Carlos da Silva, 10, estudante, em 03/10/2009)”. Como é possível perceber, existe uma visão

romantizada do campo e, outra negativa dos centros urbanos. A representação social que os

entrevistados possuem do campo, geralmente idealizada, não condiz com a realidade, pois, de uma

forma ou de outra, a violência estaria presente. E, mesmo se não houvesse, as condições de vida e

de trabalho em que estão inseridos, não propiciaria essa suposta “felicidade” defendida pelos

entrevistados. Pois,

é comum confrontar-se zona urbana e rural atribuindo à vida na zona urbana o fortalecimento do

individualismo, do egoísmo, e pensando a vida na zona rural como fortalecida por relações de

cooperação, forjando pessoas melhores, mais solidárias e atentas às necessidades do outro

(MARTINS, 2003:567).

De acordo com 80% dos alunos entrevistados, a cidade apesar de suas vantagens é um lugar distante

de seus amigos, e, que indo morar lá irão perder a liberdade que possuem morando no campo. Notese

que, possivelmente, a cidade que os entrevistados estariam falando, São Sebastião, possui de

acordo com o IBGE (2010) 32.007, dos quais 12.306 habitantes residem na sede do município e,

19.701, na zona rural. Possivelmente, a maior cidade que conhecem, seria Arapiraca, também no

agreste alagoano, com uma população total de 214.067, dos quais, 181.562 residem na sede do

município e, 32.505 na zona rural, ou seja, ambas não são grandes centros urbanos. Portanto,

prevalece uma visão fictícia dos centros urbanos. Apesar disso, os alunos entrevistados, reconhecem

que há a necessidade de ir estudar nas escolas urbanas, pois estas possuem ensino de “melhor

qualidade” sem, entretanto, saber demonstrar o que ou como seria essa suposta qualidade. E, além

do mais, segundo dados do INEP (2010), o nível de ensino ofertado nas escolas no campo de São

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
11

Sebastião limita-se ao nível fundamental, o que impulsiona esses alunos a procurarem as escolas da

cidade para continuarem estudando. Os outros 20% disseram querer ir morar na cidade, mas

apontaram à escola do campo como sendo melhor que a da cidade. Isso revela a falta de

conhecimento quanto às disparidades existentes entre o ensino ministrado nas escolas da zona

urbana e a rural.

A partir das entrevistas com os alunos, percebemos a ideia de sair do campo para a cidade, mesmo

que para estudar, desagrada. Pois, é no campo que eles se identificam e se reconhecem

considerando a estreita relação que mantêm com seus colegas e familiares. É no processo do

cultivar, semear e colher que eles constroem as suas perspectivas. Embora reconheçam que na

cidade encontrarão uma educação com mais qualidade que lhes permitirá a busca pelas carreiras

profissionais almejadas é no campo onde eles se identificam, vivem.

Sabemos que as barreiras são muitas, pois a educação no campo é foco de pouca atenção e,

podemos perceber isso, considerando o relato de quem vive essa realidade, como as professoras

entrevistadas, personagens ativas que percebem o distanciamento existente entre o nível de ensino

das escolas rurais para as urbanas. Pois, quando indagadas acerca das principais dificuldades que

encontravam em sala de aula e na escola em geral, a professora Valdinete Batista respondeu:

acho que a escola da zona rural é muito diferente da da zona urbana, porque a da zona rural fica

um pouco esquecida pelo pessoal da secretaria, a da cidade é mais visitada e aqui só exigem do

professor, mas eles que deveriam ajudar o professor, não há essa ajuda, esse interesse para com

a gente
(Valdinete Batista dos Santos, professora da zona rural/São Sebastião-AL em

29/09/2009)
.

O relato da professora demonstra o descaso existente para com as escolas do campo salientando o

fato de que, para a entrevistada, as escolas urbanas são priorizadas em detrimento das da zona rural

ficando, mais uma vez, o campo subordinado à cidade. Voltando à análise dos depoimentos das

professoras perguntamos qual a opinião delas sobre os cursos de capacitação de que participavam e

se utilizavam os conteúdos destes em suas aulas:

os cursos de capacitação precisam ser melhorados, principalmente os instrutores que não têm

total conhecimento do conteúdo. Precisa-se de pessoas que tenham domínio do assunto. Sim,

mas nem sempre. Trabalhamos de acordo com as nossas capacidades, uma vez que, nas

capacitações existe todo o material, uma realidade diferente da sala de aula. Na sala de aula o

professor tem que transformar o que aprendeu em algo que ele possa utilizar (Carmem Lucia

dos Santos, 33, professora da zona rural/São Sebastião em 29/09/2009).

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
12

Essa realidade relatada pela professora Carmem Lúcia sobre os cursos de formação continuada

contradiz aquilo que o art. 26 da LDB/96 estabelece:

art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a

ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte

diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da

economia e da clientela
(LDB, 1996: Art.26) (Grifos nossos).

A LDB estabelece que os currículos do ensino fundamental e médio devem adequar-se às

características regionais e locais de cada sociedade levando em consideração a cultura e economia

regionais. Mas, na realidade, isso não acontece como se pode perceber pelas falas da professoras

entrevistadas ao relatarem as dificuldades que enfrentam em sala de aula por terem que adaptar os

conteúdos propostos à realidade de seus alunos.

Outro aspecto negativo existente nas escolas do campo refere-se aos livros didáticos que

apresentam conteúdos inadequados à realidade dos alunos, como relata a professora Carmem Lúcia

acerca da utilização deste em suas aulas. A entrevista diz que utiliza, “porém, não com muita

frequência. Existem conteúdos importantes que não existem no livro. O livro é muito restrito”. Essa

restrição a que ela se refere estaria relacionada às características regionais e locais dos alunos e

ainda com a realidade em que estes estão inseridos.

Durante a entrevista perguntamos como elas acompanhavam o processo de ensino-aprendizagem

dos alunos, como avaliavam sua aprendizagem e quais as principais dificuldades de aprendizagem

que eles apresentavam:

através de avaliação para ver como é que anda sua aprendizagem; pelas atividades, pois as

provas foram abolidas, então é preciso avaliar tudo; o comportamento. Antes os alunos eram

mais concentrados. Hoje eles parecem não querer nada com a vida. O professor tenta fazer o

máximo, mas o aluno não tem interesse (Valdinete Batista dos Santos, 37, professora da zona

rural/São Sebastião em 29/09/2009).

Diante o depoimento da professora percebe-se que há uma preocupação de sua parte em levar aos

alunos um pouco de conhecimento que os permita ampliar sua visão de mundo. Mas, a

despreocupação por parte desses aliada a limitação de materiais didáticos adequados que pudessem

auxiliá-la na aula não permitem que isso aconteça de forma ampla e eficaz. Uma vez que, na escola

estudada não existe uma biblioteca com livros atualizados, como já citado, e, também, não há

recursos tecnológicos que possam facilitar a explanação de assuntos a serem trabalhados em sala de

aula.

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
13

Os órgãos responsáveis pela gerência da educação parecem ignorar a situação precária em que se

encontra a educação no campo. Pois, embora existam leis que garantam a aplicação de recursos

nesta área e a adequação dos currículos e calendários às peculiaridades regionais e culturais dessa

população, na prática isso parece não acontecer. Em Alagoas, a Gerência de Educação do Campo

(GEDUC) da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas (SEE), diz realizar

atividades ligadas à educação do campo. Mas, perante a realidade alagoana parece não produzir

efeitos ou mesmo que possam ser sentidos na realidade pesquisada. Além disso, há uma dissociação

entre o ensino praticado pela rede pública estadual e municipal, o que pode explicar, os professores

entrevistados desconhecerem formas de trabalhar voltada para a realidade do campo.

Nas entrevistas fizemos a seguinte pergunta às professoras: Em sua opinião quais seriam as

especificidades da Educação do Campo? Obtivemos as seguintes respostas: “trabalhar a realidade

do aluno, o que ele vive, o que ele conhece. Deveria haver material didático voltado à realidade

dele, a capacitação dos professores também deveria ser de acordo com a realidade deles (Carmem

Lucia dos Santos, 33, professora da zona rural/São Sebastião em 29/09/2009)”.
E, a outra

entrevistada diz:“
é muito importante. Depende do conteúdo. Como a realidade da cidade é

diferente da do campo os assuntos trabalhados deveriam estar de acordo com cada uma dessas

realidades (Valdinete Batista dos Santos, 37, professora da zona rural/São Sebastião em

29/09/2009)”. Estes depoimentos salientam, mais uma vez, a realidade descrita anteriormente:

embora haja leis que garantam uma educação de qualidade para a população camponesa, na prática,

isso não acontece, mas também aponta que as entrevistadas esperam que os assuntos venham

prontos, que os livros didáticos, resolvam a discrepância campo x cidade, sem, entretanto, perceber

que a realidade estaria a sua volta.

Diante dos dados e depoimentos expostos aqui percebemos que a problemática da educação no

campo pode ser ainda mais grave considerando que, geralmente, as escolas localizadas nesta área

ficam fora das pesquisas realizadas por órgãos governamentais ou, simplesmente, como no caso de

São Sebastião, não existem pesquisas. E, embora haja projetos e leis que se mostram preocupados

com a preocupante realidade do campo, são necessários também governantes engajados nessa luta,

que se comprometam a lutar pela efetivação dessas leis garantindo à população rural acesso a uma

Educação de qualidade. Pois, a Educação

sendo, portanto, função do Estado, cabe-lhe, a este, proporcioná-la, de tal forma que nenhuma

classe social seja excluída do direito de beneficiar-se dela e ainda de tal forma que ela não

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
14

constitua privilégio de uns em detrimento de outros, devendo ser ministrada de forma geral,

comum e igual (ROMANELLI, 1998:31-32
Apud ALMEIDA, 2009: 284).

Ao finalizar as questões sobre a prática em sala de aula pedimos que as professoras fizessem uma

explanação sobre como a Educação poderia melhorar e acrescentar qualquer outra informação,

comentário ou sugestão, obtivemos as seguintes respostas:

acho que através da participação da comunidade poderia melhorar um pouco, e também, que os

representantes, como o prefeito, por exemplo, sentisse vontade de melhorar isso. Percebe-se que

o presidente tem pensado na Educação, mas os prefeitos, secretarias, ainda não fazem quase

nada para melhorar esse quadro. Eles deviam se dar conta de que primeiro, pra escola funcionar,

tem que vir o recurso de lá para suprir as necessidades (Valdinete Batista dos Santos, 37,

professora da zona rural/São Sebastião em 29/09/2009).

E, a outra entrevistada, diz:

eu acredito que a tendência é piorar. A gente percebe alguns avanços, mas poderia melhorar a

qualidade dos profissionais. Eu acho que a base seria investimento na educação infantil, não tem

como você construir uma casa começando pelo telhado se há profissionais despreparados. Eu

acredito que deva-se a isto (Carmem Lucia dos Santos, 33, professora da zona rural/São

Sebastião em 29/09/2009).

Diante destes depoimentos, vê-se que as entrevistadas têm conhecimento da falta de atenção dos

órgãos públicos governamentais para com a Educação no Campo, e que compreendem que estes

parecem ignorar a situação de caos predominante nas escolas do campo. Quando na realidade

deveria haver projetos eficazes que garantissem o acesso e permanência dos camponeses na escola.

Mas, na realidade

muitas são as adversidades que acompanham a educação rural. Poucas e precárias escolas,

distantes umas das outras, dificuldades de comunicação, ausência de orientação metodológica e

didática, falta de verbas públicas na escolarização, deficiências na formação de professores,

currículos por vezes inadequados, poucos materiais pedagógicos, falta de livros, entre outros

(ALMEIDA, 2009: 286).

A autora acima aponta alguns dos indícios acerca das razões que causam a crescente dicotomia na

educação entre campo/cidade privilegiando as escolas urbanas em detrimento das escolas da zona

rural. As entrevistadas, também, detectaram possíveis problemas, mas, nos parece, diante a prática

do poder público, se sentem senão incapazes, pelo menos com dificuldades em realizar possíveis

melhorias na educação do campo.

Considerações Finais

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
15

Considerando os pontos aqui abordados, os depoimentos colhidos e a análise do ambiente estudado,

percebe-se que há a necessidade de se encontrar meios eficazes que garantam a efetivação de uma

escola com qualidade para os indivíduos do meio rural, pois estes devem ser reconhecidos como

categoria social que cumpre papel importante no desenvolvimento da sociedade. No decorrer deste

estudo foi possível verificar que a escola estudada apresenta vários dos problemas apontados na

literatura pertinente: estrutura física deteriorada, principalmente no interior das salas de aula;

ausência de biblioteca; quantidade de merenda considerada insuficiente e de baixa qualidade; sala

de aula multisseriada, o que dificulta o trabalho das professoras e; ausência de material didático

com conteúdos voltados à realidade dos alunos, como relataram as professoras. E, embora elas

possuam curso de nível superior não foram preparadas para enfrentarem as dificuldades existentes

na educação do campo. Além disso, nos cursos de capacitação de que participam não há a

preocupação de se trabalhar conteúdos que estejam de alguma forma ligados à realidade dos alunos.

É importante citar ainda que as más condições socioeconômicas em que vivem os alunos no campo

interferem no desenvolvimento intelectual e permanência destes na escola.

Os problemas citados aqui se tornam mais graves pela ausência de políticas públicas eficazes que

garantam a efetivação das, tão comentadas, leis que estabelecem que a educação do campo deve

estar de acordo com as características regionais, locais e culturais da sociedade. O que na prática,

não acontece. Foi possível demonstrar essa realidade a partir da análise dos depoimentos das

professoras Carmem Lucia dos Santos e Valdinete Batista dos Santos que relataram não haver, na

escola onde lecionam nenhum projeto ou ação que, de fato, visem pôr em prática as leis que

garantem um ensino de qualidade às escolas do campo.

Diante de toda essa problemática vê-se necessário buscar formas de educação nas quais as

peculiaridades do campo sejam respeitadas. E, que a política de “adaptação” da educação seja

substituída de modo que, a cultura e o conhecimento de mundo que a população camponesa possui

sejam respeitados, reconhecendo o quanto essa gente foi e é importante para a construção da

economia do país. Por isso, é necessário garantir o acesso e permanência deles na escola, mas para

tanto é necessária a existência de políticas públicas de educação do/no campo.

Os resultados da pesquisa revelam que o acesso da população camponesa à escola é muito

importante, pois esta como qualquer outra sociedade também é demandante de direitos. As

dificuldades que os alunos da escola Deraldo Campos têm que enfrentar, como outros tantos Brasil

a fora, são consequência da desatenção dos órgãos públicos responsáveis pela gerência e aplicação

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
16

dos recursos destinados à Educação e também da inércia do Estado brasileiro ante toda essa

problemática, o que, consequentemente, gera empecilhos que dificultam a oferta de uma Educação

de qualidade aos habitantes do campo. Ante essa realidade cheia de entraves gerados pela omissão

do Estado quanto à efetivação das leis que garantem a existência de uma educação do e para o

campo, nos resta mostrar aqui que o método de ensino hoje presente nas escolas do campo deixa

muito a desejar. E, salientamos ainda que a forma como tem se desenvolvido a educação nas escolas

do campo, não condiz com o modelo proposto pela LDB, na prática o que acontece é uma mera

adaptação dos conteúdos aplicados nas escolas urbanas para as camponesas.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Dóris Bittencourt. “A educação rural como processo civilizador”. In: STEPHANOU,

Maria e BASTOS, Maria Helena Camara (orgs.).
Histórias e memórias da educação no Brasil.v.III.

3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

ANTONIO, Clésio Acilino e LUCINI, Marizete.
Ensinar e aprender na educação do campo:

processos históricos e pedagógicos em relação
. Cad. Cedes, Campinas, v. 27, 2007. p. 177 – 195.

Disponível em:
http://www.cedes.unicamp.br. Acessado em: 23 de nov. 2009.

BAPTISTA, Francisca Maria Carneiro.
Educação rural: das experiências à política pública.

Brasília: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – NEAD/Conselho Nacional de

Desenvolvimento Rural Sustentável / Ministério do Desenvolvimento Agrário, Editorial Abaré,

2003. (Série Debates e Ação. V 2).

BENJAMIN, César e CALDART, Roseli Salete.
Projeto popular e escolas do campo. Brasília, DF:

Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, 2000. (Coleção Por Uma Educação

Básica do Campo, n°. 3).

BRASIL. CNE. Diretrizes operacionais para a educação básica das escolas do campo. (Resolução

n° 36/2001 do Conselho Nacional da Educação). Acesso: 03/11/10. Disponível em:

portal.mec.gov.br/index.php?...diretrizes...educacao-basica...

ESTEVAM, Dimas de Oliveira.
A Previdência Social Rural e o seu papel na manutenção dos

jovens e de seus familiares no campo: o caso da CFR de Armazém – Santa Catarina – Brasil.
São

Paulo, 2010. (Artigo apresentado no 13º Congresso Internacional da Rede Mundial de Renda Básica

de Cidadania – USP – 2010). Disponível em:

WWW.siteeventos.com.br/bien/pt/papers/ArtigosBIEN2010.pdf. Acesso: 10/03/2011.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010.

IDEB. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, 2009.

INSTITUTO Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.
Vários

censos
.

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2011 ISSN 1982-380

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH
17

MARTINS, Priscilla de Oliveira. [
et al]. O Ter e o Ser: representações sociais da adolescência

entre adolescentes de inserção urbana e rural.
Disponível em:

www.scielo.br/pdf/prc/v16n3/v16n3a14.pdf
. Acesso: 04/03/2001.

MEC. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira-INEP.
Panorama da

educação no campo
. Brasília, 2007.

MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília, 1996.

MION, Rejane Aurora e JESUS, Vania Cristina Pauluk de.
A importância do conhecimento

científico na construção de uma escola do campo.
Rio Grande do Sul, 2005. (Artigo apresentado no

IV Encontro Ibero-americano de Coletivos Escolares e Redes de Professores que fazem

investigação na sua escola – 2005 – RS). Disponível em:

ensino.univates.br/~4iberoamericano/trabalhos/trabalho139.pdf. Acesso: 04/03/11.

SECRETARIA de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade-SECAD.
Educação do

Campo: diferenças mudando paradigmas
. Brasília/DF: MEC, março de 2007 (Cadernos SECAD

2).

Entrevistados:

Adrian Batista da Silva, 08 anos.

Diego dos Santos Silva, 11 anos.

Deusdete da Silva Santos, 11 anos.

José Carlos da Silva, 10 anos.

Walisson dos Santos, 08 anos.

Carmem Lúcia dos Santos, (Professora)33 anos.

Valdinete Batista dos Santos (Professora), 37 anos.

17