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sábado, 31 de dezembro de 2011

ASPECTOS HISTÓRICOS E REGIONAIS DE CRAÍBAS: CONJUNTURA AGRÁRIA E EDUCACIONAL.


BARBOSA, Marcelo dos Santos. Aspectos históricos e regionais de Craíbas: conjunta agrária e educacional.UNEAL/NEASR.(Trabalho apresentado no I semana de História Nordeste/Alagoas-UNEAL/Campus I em 19/05/2010).


            Marcelo dos Santos Barbosa[1]





RESUMO:



Este artigo apresenta as condições das escolas de Craíbas - Alagoas a partir de uma pesquisa que mostrou de maneira quantitativa e qualitativa a realidade da educação no município, tendo em vista a crise do sistema educacional. O artigo argumenta a contribuição de Karl Marx e Gramsci entre outros, que defenderam propostas educacionais voltadas para a conquista da dignidade e autonomia do indivíduo através da educação, tendo como objetivo o desenvolvimento de uma educação politécnica, que se estabelece dentro de um processo produtivo, a união entre teoria e prática, onde o conhecimento é um processo construtivo e não alienado. Logo foi possível notar que os problemas do ensino nas escolas da referente cidade não é resultado apenas da relação entre professores e alunos e sim de um conjunto de fatores de ordem político econômico e social que prejudica o ensino e a aprendizagem de maneira geral, sobretudo na zona rural.



Palavras-chave: educação, campo e aprendizagem.



A educação que desde os primórdios está presente no processo de construção da cultura humana, ao longo dos séculos tem sido entendida a partir de diversas correntes de pensamento, nesse sentido, se faz necessário entender à educação como um processo aleatório, pois o ser humano transforma a natureza por meio do trabalho, produzindo a cultura e dando início a complexa trama da sociedade. Cria elementos materiais e imateriais que farão parte da vida dentro da estrutura social.



Dessa forma a pesquisa realizada sobre as condições educacionais nas escolas de Craíbas mostra em parte os problemas que estão presentes no sistema de ensino e que chega a prejudicar o trabalho do professor, principal responsável pelo ensino do aluno na sala de aula.  Assim várias escolas apresentam problemas estruturais, e que de maneira clara contribuiu para que o processo de ensino e aprendizagem possa ser danificado, muitos culpam o professor pela falência do sistema educacional, outros, os alunos que não querem estudar, mas na realidade onde está o problema educacional que sempre é mascarada por conturbações cíclicas, em uma nova época os problemas são velhos como: repetência, evasão, falta de estrutura, baixos salários.



Como mostra a tabela abaixo, onde foi possível notar que: é irrelevante a quantidade de salas ou até mesmo muito pequeno o espaço em cada escola, uma delas tem um único banheiro. Há poucos professores, que na maioria das vezes lecionam várias disciplinas. Com relação à escolaridade dos professores, a maioria cursou o 3º ou 4º ano do magistério, ou o ensino médio e outros estão cursando o nível superior, e grande parte deles tem mais de 10 anos de experiência profissional na área da educação, só que, com escolaridade inadequada, e tendo capacitação uma vez por ano, e muitos ainda não buscam capacitação pessoal, nem mesmo lêem livros. Existe uma equipe pedagógica, mas nem sempre atuantes nenhuma das escolas analisadas possui biblioteca, a maioria não tem acervo tecnológico, (ex.: computador, dvd, TV, vídeo). O que dificulta o trabalho do professor e a aprendizagem do aluno como relatam as tabelas a seguir.



Tabela quantitativa

ESCOLA
B
C
D
E
SALA
02
09
02
10
01
PROFESSOR
06
03
05
28
02
EQUIPAMENTO PEDAGICO
06
04
01
02
01
PESSOAL DE APOIO
06
03
05
20
03
SANITÁRIO
03
02
01
02
01
BIBLIOTECA
0
0
0
01
0
COMPUTADOR
0
01
0
01
0
DVD
1
01
0
0
0
IDADE
_
_
_
_
_
ESCOLARIDADE.
_
_
_
_
_
DISCIPLINA
AT
At.
At.
At.
At.
N° ALUNO
_
_
_
_
_
TV
1
1
0
01
0
VÍDEO
0
1
0
01
0
EXPERIÊNCIA
_
_
_
_
_
CAPACITAÇÃO
1/ano
1/ano
1/ano
1/ano
1/ano
CAPACITAÇÃO PESSOAL
Ñ
S, N, N
Ñ
Ñ
Ñ
LIVROS LIDOS
0,0
0
03
0
02



ESCOLA

A: Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Nunes Sobrinho

B: Escola Ana Carolina de Queiroz

C: Escola Municipal Delmiro Soares da Silva

D: Escola de Ensino fundamental Pedro Ramos Francisco

E: Escola Municipal de Ensino Fundamental Pe. Afrânio Pinheiro Bezerra





Tabela qualitativa



ESCOLA
A
B
C
D
E
MERENDA REGULAR
SIM
SIM
SIM
SIM
NÃO
CONSELHO ESCOLAR
NÃO
NÃO
NÃO
SIM
NÃO
PAIS ATUANTES
NÃO
POUCOS
SIM
NÃO
SIM
GESTÃO DEMOCRATICA
NÃO
NÃO
NÃO
NÃO
NÃO
ALUNOS DISINTERESSADOS
SIM
MAIORIA
REGULAR
REGULAR
NÃO
USAM O QUE APRENDEM NOS CURSOS
SIM
NÃO
_
_
NÃO
DISFRUTAM DE BOAS CONDIÇÕES DE TRABALHO
NÃO
NÃO
NÃO
NÃO
NÃO
COORDENADORES ATUANTES
NÃO
PÉSSIMA
PÉSSIMA
SIM
NÃO
MAIORIA DOS ALUNOS DE ORIGEM HUMILDE
SIM
SIM
SIM
SIM
SIM
É UTILIZADA A AVALIAÇÃO CONTINUA
SIM
SIM
SIM
SIM
SIM
POSSUI ACERVO PESSOAL PARA APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS
SIM
SIM
SIM
SIM
NÃO
PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS SÃO DE ORDEM POLÍTICO-ECONÔMICO-SOCIAL
SIM
SIM
SIM
SIM
SIM



Já na tabela qualitativa, que como a primeira resume os dados extraídos de uma pesquisa feitas aos professores das escolas de Craíbas, mostram que: há uma distribuição de merenda, embora não seja de boa qualidade ou regular, não se tem conselho escolar, os pais não são atuantes, ou seja, não participam da vida escolar dos filhos, por outro lado não se tem uma gestão democrática, os diretores ou gestores da escola são indicados ao cargo, os alunos pelas condições sociais e por outras coisas mais se encontram desestimulados até mesmo desinteressados. Com o corpo docente não acontece diferente, pelas precárias condições de trabalho, ou pela baixa remuneração e, com relação as equipes que oferecem os cursos de capacitação anual, muitas vezes o que é passado, não condiz com a realidade que encontram no dia a dia. Então muitos dos professores não utilizam o que aprenderam e aprendem nos cursos. A metodologia usada em sala de aula para avaliar os alunos ocorre de maneira continua nesse sentido os problemas encontrados nas escolas são de ordem político, econômico e social, sobretudo nas escolas da zona rural de Craíbas.

O que marca a realidade brasileira e, sobretudo em Alagoas e principalmente nas escolas da zona rural. Que por sua vez deixam os alunos alienados de sua realidade. “O processo capitalista de produção, em virtude do seu próprio desenvolvimento, o divorcio entre a força de trabalho e as condições de exploração do operário (MARX, 1973, (livro), p. 409)”. Nesse sentido os alunos passam a estranhar sua realidade buscando outros modos de subsistência para sobreviver, já que a vida no campo, sobretudo para famílias pobres e extremamente desvalorizadas, desse modo a escola no campo e o estudante passa a sofrer com as condições impostas pelo monstruoso sistema capitalista, a maioria dos professores saem da cidade para ensinar no campo e também passam a encarar as dificuldades do seu novo ambiente de trabalho, que muitas vezes se encontra desorganizado e até mesmo desequilibrado, mas isso não significa dizer de fato que a educação está falida e que as escolas na zona rural se encontram danificadas, pois a mesma tem que no mínimo contribuir com a formação daquela sociedade, algo que venha possibilitar aos educandos ou futuros trabalhadores, melhores condições de vida em um mundo marcado pelo lucro, desigualdade e mecanismos de exclusão, pois o sistema é uma grade que prende o homem em grilhões.

Com tudo isso é possível notar que a educação tem se constituído como um instrumento relevante na sociedade brasileira e às vezes tem sido definida por concepções de educação que no processo histórico é enviesado para um caminho de caráter elitista e conservador de poder, percebe-se a natureza reprodutiva neoliberal e pragmática da educação, algo que se faz presente no ambiente escola do campo, pois as condições educacionais no campo têm se caracterizado como um espaço de precariedade e descasos, especialmente pela ausência de políticas públicas para a população que lá reside. Essa situação esta presente no meio social, devido à desorganização da educação básica, assim os sujeitos que compõem aquela realidade social são crianças, adolescentes e ate adultos desorientados frente aos desafios e incertezas da contemporaneidade, problemas que estão se agravando com o processo alienador e pelos pensamentos provocados pelo antagonismo entre o espaço rural e urbano.

Nesse sentido, as famílias têm procurado mais resistir na terra, mas, a falta de condições dignas, necessárias à sobrevivência a de escolas de boa qualidade tem dificultado a escolha entre permanecer ou não no campo, ou seja, passa a existir um grande antagonismo entre o rural e o urbano, que passam a ser representado pelas precariedades sociais vinculadas aos aspectos econômicos e políticos de maneira clara e real. O campo sofre com o processo industrial e precisam se adequar, pois os maquinários possibilitam o aumento da produção de grãos, utilização de agrotóxicos, alteração de genes das sementes para exportação em larga escala. Mas os que têm usufruído desses avanços são pequenos grupos de latifundiários, empresários, banqueiros e políticos nacionais e internacionais. Enquanto a outros é negado o acesso à terra par a sobreviver e garantir o sustento de tantos brasileiros.

Em relação à educação do campo é importante ressaltar que a concepção de educação que vem sendo empregada pela cultura dominante, não tem favorecido satisfatoriamente no combate ao analfabetismo, para assim elevar a sua escolaridade e melhorar o seu padrão de vida. Há ainda insatisfação ocasionada pelo acesso tardio à escola que na maioria das vezes, nas regiões mais pobres do Brasil, são oferecidas sem condições de oportunizar saberes para a criança, os adolescentes, jovens e adultos, devido à precariedade de investimentos públicos. Isso representa sem duvida um dos maiores problemas históricos para com a população do campo:

A educação dever das famílias e dos estados, inspirado nos primórdios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana tem a finalidade de promover o pleno desenvolvimento do educando, se preparar para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho (LDB 9.394/96 Brasil).



  O ponto em questão é que os indivíduos em pleno século XXI em Alagoas, têm acesso à educação, mas se tratando de qualidade não são as melhores e as escolas de Craíbas é uma representação disso, em particular no campo, outro grande problema é o desemprego que a cada dia cresce e o Estado que é uma representação da burguesia no poder não faz nada para solucionar estes velhos problemas educacionais. Estes mesmos problemas não são uma particularidade apenas de Craíbas, mas um problema claro da educação brasileira que é homogeinizadora e está preocupada com números, que passam a mostrar a realidade de maneira fragmentada e ilusória, dessa maneira a educação em todos os sentidos tem que melhorar. As responsabilidades não estão nas mãos dos professores e nem dos alunos, mas nas mão do Estado de maneira geral que não cumpre com suas atribuições, isso precisa ser mudado.      

 Assim Marx estabelece uma visão diferenciada do processo educativo e da sua influência na sociedade, pois o próprio Estado estabelece pontos para o entendimento da estrutura da sociedade capitalista no sentido de dominação, segundo ele é exploratória e contraditório o que caracteriza e aprofunda as desigualdades entre os homens “... as circunstâncias fazem os homens tanto quanto os homens fazem as circunstancias” (MARX e ANGELS, 1989,36), diante disso a educação é algo que faz parte das circunstâncias do homem, pois este precisa conquistar uma dignidade quanto ser social. Desse modo a educação deve estar voltada para melhorar à realidade dos educandos e educadores, algo que serve para as escolas de Craíbas e do Brasil, pois os alunos devem se romper com estranhamento alienador imposto pelo capitalismo, os educandos têm que aprenderem a melhorar sua vida social, tendo como caminho a educação. Diante disso a concepção marxista de educação perpassa a necessidade de agrupar trabalho e educação dentro do processo produtivo, ou seja, a criança dos 9 aos 17 anos tem que esta em contato total com o processo de produção acompanhado todas as fazes de constituição de um produto, educação tem que ser politécnica e prática, ou seja real e não alheia a realidade do educando que passa a ser um agente social e transformador de seu mundo marcado por contradições imperialistas provocadas pelo capital.   Para tanto a educação é algo presente na vida da classe trabalhadora e que através dela os indivíduos, enquanto educando e trabalhadores conquistem sua “hegemonia social e cultural” (GRAMSCI, 1989, p. 33-60), o que implica que trabalho e educação são temas que se relacionam e é por meio desses dois elementos que a base social é construída tanto de maneira teórica quanto prática, a educação é marcada pelas práxis do trabalho, onde o principio básico é a conquista da liberdade e autonomia dos indivíduos que são membros e construtores do meio social.

A educação tem que ser realista, assim percebe-se que dentro do sistema educacional não deve existir a separação entre trabalho manual e intelectual, ou seja, o trabalho explorado por meio de um grupo de pessoas, um manda o outro obedece algo que provoca diferença entre homens, a educação tem que desenvolver o que Marx denomina de homolateralidade, ou seja, a possibilidade de o indivíduo se desenvolver de maneira teórica e prática assim o sistema educacional proposto por Marx ganha centralidade ao romper com a alienação imposta pelo trabalho capitalista um saber novo, chave para emancipação do homem como membro da sociedade:

A educação dará os jovens à possibilidade de assimilar rapidamente na prática todo o sistema de produção e lhes permitirá passar sucessivamente de um ramo de produção a outro, segundo as necessidades da sociedade ou suas próprias inclinações (ENGELS apud RODRIGUES, 2000, p 57).



Portanto a educação tem que contribuir para a liberdade dos indivíduos, rompendo com o caráter unilateral que a divisão do trabalho impõe a cada ser humano, desse modo à educação escolar irá contribuir para a transformação da sociedade que será livre das condições contraditórias da exploração do trabalho e da desestruturação da escola na zona rural. “O ensino deveria ser universal, obrigatório, público, principalmente no ensino fundamental. (MARX, 1993, 110-120).” O ensino não deveria ser fornecido pelo Estado o que é a representação da burguesia no poder, no entanto o próprio tem que propiciar as condições matérias para a elitização das escolas politécnicas, algo que seria gerado pelos trabalhadores, no sentido de programas educacionais para os alunos formando indivíduos sociais, plenos e cidadãos, tanto na, relação educacional quanto na trabalhista e que envolva da melhor qualidade possível às escolas do campo e as escolas urbanas de maneira justa.  Logo “é somente trabalhando para o bem e a perfeição do mundo que o cerca que o homem pode atingir a sua própria perfeição.(MARX, 200L, p. 11-16),” diante disso o trabalho e a educação são mais que profissão, é mais que ter necessidade de trabalho é na verdade as ferramentas capazes de construir uma nova sociedade, pois educação e trabalho são caminhos para os indivíduos conquistarem a liberdade, autonomia e consciência humana. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS



BRASIL. Lei nº9394, 20 de dez.1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Suplemento do Diário Oficial, Brasília, nº248, de 23 de Dezembro de 1996.

GRAMSCI, Antonio. A questão meridional. Introdução Franco de Felipe, Valentino Parlato. Tradução Carlos Nelson Coutinho, Marco Aurélio Nogueira. ---Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos e filosóficos. Tradução de Alex Marins. Martins Claret 2001.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

__________. O manifesto do partido comunista ed. São Paulo: Global, 2000. (coleção universidade popular)



[1] Estudante de graduação 6º período de história Universidade Estadual de Alagoas-UNEAL, CAMPUS I. Trabalho realizado através do Núcleo de Estudos Agrários e Movimento Sindical Rural em Alagoas. Orientado pelo Professor Antonio Barbosa Lúcio. Este trabalho contou com a colaboração da aluna Maria José dos Santos.
[2] Observa-se que a faixa etária dos professores entrevistados varia de 21 a 41 anos; a maioria cursou o magistério, sendo que poucos ingressaram no ensino superior; a quantidade de alunos nas escolas analisadas é de 25 a 34 por salas; a experiência dos docentes em sala é de 9 a 21 anos.

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