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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

POBRES, MISERÁVEIS OU COMO FALAR DA "CLASSE MÉDIA BAIXA"


Em época natalina, aonde a "paz" e o "amor" vem ser demonstrado em público, pensei em refletir um pouco sobre  os pobres e miseráveis do Brasil, tão aclamados a cada final de ano. Sei que a reflexão que faço, possivelmente não seria aquela que muitos estavam esperando, mas, fazer o que? Assistindo um programa de televisão alagoano, vi uma senhora reclamando da sua condição de vida na capital alagoana, Maceió. Ela dizia que faltava água, ruas estavam esburacadas, lixo em quantidade elevada, esgotos a "céu aberto", doenças causadas pelas condições de vida em que estava submetida em um dos bairros de Maceió e, para culminar disse: só porque nós somos da classe média baixa a prefeitura não faz nada. Ora, o local era de extrema miséria, de abandono total por parte do poder público, mas, dizer que era pobre, miserável, não parece entrar no imáginário popular criado a partir da lógica capitalista. Dizer que estaria em extrema pobreza, soa de forma negativa, pejorativa, como se a culpa por tal situação fosse do pobre ou do miserável, não do sistema que criou tal condição de vida. 


Segundo IBGE, o Brasil possuia em 2008,  16,27 milhões de pessoas em extrema pobreza. Onde estariam? 46,7% vivem no campo; 53,3% residem nas cidades. Mas, apenas 15,6% dos brasileiros moram no campo. Os demais? 84,4%, vivem nas cidades. O capitalismo inverteu a pirâmide: na década de 1930, mais de 80% residiam no campo. Melhoraram de vida saindo do campo? Os dados demonstram que não. Pelo contrário, demonstram que perpetuaram as desigualdades. Os governos insistem em demonstrar dados que pessoas saíram da miséria. Mas, pensem em acabar com o "Bolsa Miséria"que voltarão a condição anterior. Continuam com a lógica de dar o peixe, de não propiciar questionamentos sobre o que causa a miséria, de culpabilizar o pobre e o miserável por sua condição de vida. Daí, a mulher que citei acima, não se reconhecer como miserável, aliás, palavra vista socialmente como pejorativa de falar, mas não de ser efetivada no cotidiano de milhões de brasileiros. Mas, os dados do IBGE, apontam outra condição. Ser miserável possui cor "negra ou parda" significa que estando na cidade ou no campo, sua renda será inferior ao branco e, possui um sexo determinado, se for mulher, estaria em condição inferior a todos os demais.


A Geografia da Miséria, aponta, também que os miseráveis que são aqueles que possuem renda de R$1 a R$ 70  mensais e, morava na Região Nordeste(59,1%).Desse total, 56,4% residiam no campo. Dos miseráveis do Brasil, em 2008, 56,6% em estado de pobreza absoluta, moravam em Alagoas e, 32,3%, também em Alagoas, em pobreza extrema. O Estado foi campeão brasileiro em todas as modalidades de pobreza. Mas, para o alento das elites econômicas do Estado, elas, estão entre as mais ricas do país. Estado rico, povo pobre, eis o motivo da pobreza em Alagoas.

Mas, quem se importa?


Lembro de Gramsci quando diz que odeia os indiferentes. Os miseráveis são criados pela lógica excludente do campital e a indiferença da sociedade civil organizada. Aliás, os últimos, não co-responsáveis diretos dessa situação: vivem sua vidinha medíocre, se apropriando de uma distribuição desigual tendo em vista que a grande massa alagoana (e brasileira) sequer possui a condição de competir, mesmo sob a lógica do capitalismo, aos empregos existentes, restando apenas, ser subempregado ou sem emprego algum.

O movimento dos "sem movimento", dos "sem nada" é aquele de vagar sem rumo na "esperança" de que algo poderia melhorar. Assim, vejo pessoas preocupadas por não conseguir uma "empregada doméstica(ou seria secretária do lar?), um servente de pedreiro(ou mesmo um pedreiro), um trabalhador rural assalariado, ou seja, quem faça algo por você e que você não quer fazer. Culpam o "bolsa miséria" dos governos neoliberais. Ou seja, nem isso, aceitam. Os governos no neoliberalismos, usam tais recursos (e estratégias) para fazer acalmar um povo que não possui rumo, perspectiva ou qualquer outra coisa. Enquanto estão podendo comer(sabe-se lá o que), não se posicionam contra o que gera a miséria, no máximo, poderão roubar, matar, alcoolizassem, drogassem; "hospedaressem" em hospícios, nas cadeias; nas ruas. Mas, se residirem em Alagoas, nem isso é possível, pois, o Estado é campeão brasileiro em assassinatos de moradores de ruas. Aliás, é campeão brasileiro em outras coisas: assassinatos de jovens, educação deficitária, analfabetismo,  etc., etc., etc.. 

Mas, quem se importa?

Temos um monte de cristãos, lotando as Igrejas, apelando para os céus que sua condição de vida mude; temos um monte de líderes religiosos que compõem a "nova elite econômica", criando ilusionismos, reconstruindo os preceitos cristãos sob a lógica do capital e, mais que isso, incentivando a concepção de todos poderiam enriquecer.Raras foram as vozes que ecoaram diante a lógica pervessa e excludente divulgadas em pesquisas governamentais. Raros são os "pobrologos" da academia que efetivamente denúnciam a pobreza, a não ser que possa gerar um artigo ou um livro para engrossar o currículo. Parecem engolir de "goela a dentro"a lógica do capital e, mais que isso, reproduzem a mesma lógica sem nenhum pudor. Em épocas natalinas( e quase que somente nelas) surge logo, os cristãos utópicos, visando aliviar suas consciências perversas, dando esmolas, pedindo alimentos de porta em porta e, claro, as mentes "caridosas" não exitam em doar o brinquedo quebrado, a roupa rasgada e velha, um quilo de sal, uma cueca imprestável. Tudo isso, para fazer um "natal mais feliz" como se as pessoas humilhadas, que tendem a receber e ainda agradecer a caridade dos "homens bons", tivessem em algum momento de suas vidas, um período de felicidade. Ela foi arrancada  dos miseráveis alagoanos e brasileiro para ser distribuida a poucos.

Os dados recentes do IBGE não pareceram ecoar nos "corações" da quase totalidade dos brasileiros. Nada ou quase nada parece abrandar a ira gananciosa de usurpar de grande parte da população condições de vida dignas. Não questionamos, debatemos, confrontamos, denunciamos, exigimos, lutamos, mudamos, revolucionamos. E, a situação se perpetua. A geografia da miséria, tende a permanecer, mudando apenas com a expulsão do camponês do campo para a cidade, justamente para engrossar as fileiras da miséria urbana e, fortalecer o domínio do capital.

Depois de fazer a leitura, se conseguirem, um feliz natal.

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